Sem Título.
Percebi, pouco a pouco, com o passar dos dias, que gosto de escrever cartas. Cartas? É. Cartas. Simples ou complexas cartas com ou sem destinatário. Gosto de deixar o lápis escorrer pelas linhas do papel quase que instantaneamente sem pensar na palavra seguinte. Mas essa é diferente. Essa carta eu escrevo com as palavras mais pensadas e com todo o coração. Se tem destinatário? Talvez. A pessoa se reconhecerá, provavelmente - se é que ela chegará a ler.
Pois bem, sem mais me tardar em apresentações fúteis e duradouras, aqui vos falo, de bom grado, o que foi a vida para mim até hoje: Uma série de encontros e abandonos. Uma série de pessoas entrando na minha vida e/ou saindo. Algumas para o bem, outras para o "não-tão-bem-assim". Sou um pouco supersticioso. Acredito em karma, mas só quando bem aplicado. Não gosto de extremismos. Enfim, cá estou eu, mais uma vez, me perdendo entre frases. Perdoe-me. Tentarei ser breve.
A minha vida, até hoje, foi ser substituto. Uma pessoa substituta. Muitos irão logo associar o significado da expressão, mas acredito que outros não o farão tão depressa assim. Calma, eu explico:
O que me refiro como pessoa substituta é, sim, ocupar o lugar de alguém. Mas não ocupar o lugar "expulsando" esse alguém, é preparando. "Preparando?" Sim. Pessoas substitutas "esquentam" o lugar; o banco. Estamos ali apenas até que a pessoa chegue e nós não sejamos mais necessários. É uma vida dura, confesso. Mas quem não foi uma pessoa substituta, pelo menos uma vez na vida? Nunca parou para olhar para trás e, apesar de querer, percebeu que seu lugar não era com aquele alguém e, por assim dizer, esse alguém está melhor e mais feliz agora, com outra pessoa? Acontece, meu caro. Ou minha cara.
Eu já ocupei temporariamente muitas lacunas. E, incrivelmente, logo após essas lacunas serem preenchidas com o formato certo, quase que instantaneamente, parei de ser útil em quaisquer aspectos. Parece que a amizade ou a paixão de outrora adormece. E adormece de tal forma que, de tão cansativo tentar recuperar e a outra pessoa não demonstrar interesse algum nisso, você desiste.
Me conformei com essa vida. E não a vejo como uma maneira ruim. Fico contente em poder saber que ajudei gente a se sentir bem quando mais precisava. E, mesmo sabendo que esse papel não mais me pertence, sempre estarei nas lembranças, entranhado em algum cantinho da memória das pessoas pelas quais deixei um pouquinho de mim.
Engraçado que nada é certo. O futuro se molda no que fazemos e, por vezes, toma proporções nunca imaginadas. Pessoas definitivas também existem, e nunca sabemos quem é até que encontremos. E há, também, aquelas que achamos ser definitivas. Talvez por um tempo fossem, mas o tempo é tão cruel que nos muda junto com ele. E, quando mudamos, talvez nossa percepção do definitivo não seja exatamente o que queremos para o agora, quem dirá para o amanhã.
Confesso ser egoísta. E quem não é? E, por ser egoísta, mesmo ajudando tantas pessoas (ou pelo menos julgo ajudar), espero que, algum dia, quando eu estiver cansado demais para ser uma pessoa substituta, apareça alguma pessoa definitiva em minha vida para que eu possa repousar minha cabeça e minhas feridas. Remendar cicatrizes antigas e costurar as novas. E, assim, descansar.