Desculpe esse meu silêncio
Desculpe esse meu silêncio, na verdade relutei muito em te falar. Você não sabe o quanto novo, inusitado e difícil para mim admitir que te amo; e a cada vez que penso em você um sentimento de conforto e paz toma conta da minha alma. No início nem eu conseguia e nem sabia, e sei lidar com isso. Acredite nunca me passou pela cabeça vivenciar um sentimento da magnitude e intensidade deste, por uma mulher. Na verdade desconheço minhas próprias razões, que me levam a escrever-te desta forma. Eu sempre fui e sou reservado, de um controle emocional que beira ao extremo. Mas me sinto compelido a escrever isso, depois de remoer e remoer por dentro alucinadamente. Enfim não há outra saída para eu ficar mais tranquilo comigo mesmo, senão a redigir meio que desordenadamente estas palavras. Espero sinceramente que você tenha a atenção e a paciência de lê-las acuradamente. Gostaria de pronunciá-las pessoalmente olhando lá dentro dos seus amorosos olhos, entretanto não sei se terei essa oportunidade. Sendo assim decidi escrever desta forma e com esta intensidade. Primeiramente devo retratar-me contigo pela forma fria com que me dirigi nesta semana, em nossas breves conversas online, só quero que procure entender se assim o quiser, que para mim era necessário e até benéfico desligar-me de você por mais duro que isso fosse de suportar. Mas chega a um ponto em que definitivamente não suportei, e por isso também, resolvi me expressar desta maluca forma. Gostaria de ser um minúsculo e insignificante inseto para poder espiar-te ao ler esta breve composição, porém contento-me em especular comigo mesmo a sua suposta reação. O meu coração ainda sangra pelas suas palavras, é difícil digerir, aceitar e superar totalmente. Apesar de eu sentir profundamente o amor a que você me dedica, é duro ouvir de sua própria boca que não me ama, entenda a minha tristeza. Fico imaginando na minha mente fértil inúmeras deduções e traçando infindáveis possibilidades. Supondo e buscando em mim mesmo respostas que ecoam sagazmente dentro deste peito. Eu me emociono intensamente a cada lembrança sua, e a todo o momento alvitro como você está, onde está o que faz e coisas do gênero. Hoje, eu realizei minha corrida de costume, e com o vento gelado a roçar fortemente o meu corpo já com frio, os lábios meio que ressequidos pela ação do ar, com o objetivo em mente de cumprir o percurso por mim mesmo proposto, sorvido totalmente pela respiração coordenada e as passadas que galgavam o asfalto. Ignorei os rigores impiedosos impostos pelo clima e sentia verdadeiramente duas coisas, o meu próprio ritmo a avançar vorazmente estrada à frente e sua lembrança a me perseguir onde quer que fosse. Sentia-me observado por você no alto da pista, sorrindo graciosamente para mim, como se estivesse zelando o meu percurso tortuoso. Essa sensação somada a tudo o que descrevi até aqui mexeu de uma forma diferente com a minha emoção, atinou a minha paixão e me fez derramar uma tímida lágrima nos olhos. Ao responder a minha humilde indagação a respeito de que presente você havia ganhado, emocionou-me totalmente. Uma resposta de conteúdo simplista, mas em contrapartida de significado verdadeiramente complexo, “eu” como o “seu presente”. Isso foi pra mim talvez uma das melhores e mais profundas declarações de amor, afeto que alguém pode dizer. Verdadeiramente eu não sei se poderia escrever algo deste calibre. É preciso muito sentimento, e uma sensibilidade extrema para atingir este nível de objetividade e simplicidade. Como dizia Leonardo da Vinci, “a simplicidade é o último grau da sofisticação” e você fez o simples e me emocionou. Sem mais delongas vou encerrar esta composição, na esperança que tenha discernimento e um pouco de paciência para chegar até o final.