Carta um
Nova Iguaçu, 15 de dezembro de 2010.
Caríssimo Carlos David,
Escrevo-te algumas memórias de cabaceiras. Ninguém foge das próprias experiências, entendidas aqui como aquilo que nos passa e nos toca, bem nos moldes de sem querer ensinar nos ensina Valter Benjamin.
Pensando no movimento armorial do Ariano Suassuna, como nordestino expresso meu pensarsentir ou sentirpensar a respeito da tua sensibilidade amorosa por nossas memórias, de cabaceiras, que tu tão maravilhosamente expressas em cuidados com teus conterrâneos e nos textosmensagens que escreves.
Cuidas das visitas a tua casa, conforme vejo nas fotografias que postas. Cuidas das pessoas em geral, tios, primos, amigos com as belas mensagens que postas na Web. Cuidas da tua família com as lindas fotos e belas dedicatórias que conosco compartilhas no fecebook. Cuidas no nosso lugar – Cabeceiras/Reriutaba com os emocionantes textos que dedica à nossa terra e as pessoas do lugar e, nos presenteia gentilmente através de postagens e publicações.
Para mim sua companheira das mesmas alegrias e desvão de retirante o que posso dizer das suas narrativas?
Apenas, que elas me chegam como uma bricolagem para brincarmos sobre os nossos pensamentossentimentos de criaturas diaspóricas, sempre em trânsito afetivo, pois a nós não, se quer, êxodo, como ocorreu com os cristãos no Egito. A eles coube o Mar Vermelho como símbolo, que uma vez atravessado o retorno à terra prometida se efetuava.
A nós, retirantes nordestinos, que somos, cabe apenas o conflito da saudade de sermos de onde viemos, que de tão velha já virou afeto e, por isso é impossível matá-la e do desassossego, que experimentamos, por não estarmos por inteiro no lugar, onde estamos, pois que o afeto, que nos persegue, não nos deixa relaxar, completamente.
Assim, sou feliz por encontrar alguém como tu para, eternamente, dizer alguma coisa a partir daquilo que nos toca como nordestinos, que somos. Um dizer, bem num estilo circular de brincadeira de criança, assim: falo eu fala tudo, fala o rabo do tatu...
Abraços nordestinoscariocas.
Francisca de Assis.