Querido eterno amor

Querido eterno amor,

Hoje, dia vinte e cinco de agosto de dois mil e setenta e seis, nós completamos cinquenta e nove anos casados. Sabe o que isso significa? Isso significa que você é um grande homem por me aguentar todo esse tempo, por aguentar minhas crises, por ter repetido várias vezes ao dia como eu estava linda quando os primeiros sinais da velhice começaram a surgir, por ter me amado mesmo quando eu te dei tanto trabalho ao ficar doente, por ter me ajudado em todos os momentos. Obrigada por ter sido paciente comigo durante todo esse tempo, meu amor.

Sabe, é bem verdade o que dizem sobre chegar à velhice e o carinho aumentar ainda mais. Devido a tudo o que nós já passamos juntos, hoje eu te amo ainda mais e quero ainda mais retribuir todo o amor que você dirige a mim. São poucos os casais que chegam a completar tantos anos juntos e nós fazemos parte desses poucos.

Você não faz ideias do quanto me fez feliz durante todo esse tempo e nem do quanto me irritou também. “Papai, não deixa mamãe chateada” já dizia nossa pequena Sarinha, nosso anjo, nosso maior presente. Obrigada por ela também. Essa carta se resumirá em agradecimentos se eu não me controlar porque eu gostaria de te agradecer por tanta coisa...

Gostaria que soubesse como me sinto ao acordar todos os dias e ver ao meu lado o único homem que eu desejei de verdade e que eu amo até hoje deitado, já velhinho e de cabelos brancos, às vezes sorrindo pra mim, às vezes dormindo ainda. Gostaria de conseguir descrever como me sinto ao seu lado desde aquele primeiro beijo no cinema ao som de “Wanted Dead or Alive”.

Muitos anos ainda podem se passar e eu ainda estarei com você, honrando a promessa que fizemos um ao outro de nunca deixar essa família se acabar, meu velhinho. Nós podemos brigar muito ainda e você ainda pode continuar me irritando ao falar da minha profissão, mas nada poderá mudar o que existe em mim com relação ao você. Nada poderá acabar com esse amor que vem de outras vidas e que permanecerá por muitas outras vidas.

Hoje podemos olhar para tudo o que construímos e ver que está tudo como planejávamos. Conseguimos fazer nossa filha ter uma infância incrível acreditando em Papei Noel e sendo educada sem violência, conseguimos passar um tempo no Alaska, conseguimos viajar para onde queríamos, escrevemos um livro. Hoje temos nossos netos e uma vida tranquila a ser aproveitada ao lado um do outro.

Nesse momento você está lá embaixo no jardim cuidando dos nossos lírios, símbolo de amor eterno e, enquanto te observo pela janela, sorrio como a adolescente apaixonada que era aos quinze anos quando você me deu um vaso com lírios. Na verdade, ainda sou aquela adolescente apaixonada só que agora um pouco mais velha. Só um pouco, nem é tão claro que estou com setenta e nove anos, não é?

Ainda temos muito que enfrentar juntos, meu anjo salvador. Ainda carrego comigo o desejo de estar ao seu lado “na saúde e na doença, na alegria e na tristeza” blá blá blá e para sempre. Nem a morte irá nos separar.

Eu te amo inefavelmente.

Debora Santos
Enviado por Debora Santos em 15/04/2013
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