CARTA A FORTALEZA
   NO DIA DO SEU ANIVERSÁRIO
 
 
          Ao forasteiro, que te escolheu para morar, fica um pouco difícil saber qual o verdadeiro ano em que nasceste:
     uns dizem, que foi em 1603, quando Pero Coelho de Souza desembarcou na foz do rio Ceará e, lá, fundou o Fortim de São Tiago e te chamou de Nova Lisboa;

          outros, que foi em 1613, quando Martim Soares Moreno, chegou a mesma foz e reconstruíndo o Fortim o renomeou de Forte de São Sebastião;outros ainda, que nasceste em 1649, quando o holandês Matias Beck construiu o Forte Schoonenborch, as margens do rio Pajeu (rio?);
          e há os que te comemoram hoje, afirmando que nasceste no dia 13 de abril de 1726, quando foste elevada a condição de vila, com o nome de Nossa Senhora da Assunção.

         Ora, tenhas a idade que tiveres: 410, 400, 364 ou 287 serás sempre  “a loura desposada do sol”, a “virgem dos lábios de mel”, a “fortaleza descalça”, capital dos cearenses, madona acolhedora de quantos te procuram e escolhem para morar.
           A primeira vez que te visitei foi em 1942. E agora como hóspede (permanente), leio num encarte do jornal O Povo, que foi um ano muito especial: pois foi o ano em que o sol foi vaiado na Praça do Ferreira; foi o ano em que Orson Wells começou a filmar “It´s all true”; foi o ano em que começaram a usar gasogênio e, veja só, foi o ano da realização do I Congresso de Poesia e fundação do Clube de Literatura e Arte (Clã).
          E eu ignorei tudo isso, mas não os “blimps” sobrevoando o teu litoral, o “blackout” em tuas janelas, as mães já temerosas de que seus filhos (também teus) partissem para uma guerra que não tinham declarado.
         Olha, todos esses anos passados, não foram suficientes para apagar as primeiras impressões que me causaste: o Passeio Público, a Cidade da Criança, a Praça da Lagoinha, as dunas do Mucuripe; os burricos dos vendedores de água; a doçura das atas de compadre Doca, em Soure, hoje Caucaia e sobre tudo, a luz, o vento, a mobilidade das dunas e as nuances da cor do mar, ora verde, ora azul, no seu constante balanço de ondas e espumas. Se soubesse, na ocasião, teria me antecipado a Fagner e, a plenos pulmões, cantado:
“As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar
Vou levar as minhas mágoas
Pras águas fundas do mar”.
Alberto Soeiro
Enviado por Alberto Soeiro em 12/04/2013
Reeditado em 12/04/2013
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