CARTA A UM DESCONHECIDO !
CARTA A UM DESCONHECIDO
Sou , apenas um desconhecido que a outro escreve...nada temas, não o chamarei de pai, pois afinal não o conheço, nunca lhe vi o rosto, nunca tive a oportunidade de com minhas mãos acariciar teu rosto, como vi em minha infância conturbada, a outras crianças de minha idade o fazerem.
Não pense que eu não gostaria de ter um pai,ah...como queria...mas, sua indiferença a mim, fruto de um amor incompreendido, o tornou cego a ponto de virar as costas a família , minha mãezinha a quem desejastes, mesmo sendo pai de uma outra família, e dela somente desejou o prazer, a carne.
Vim ao mundo, e com indiferença,tu abandonastes a mulher a quem me deu vida,deixando-a a mercê da sorte, quando pessoas desconhecidas a minha mãezinha deram guarida, pois nada tinha, nem onde me parir.
Cheguei neste mundo, como Deus quis, chorando,pelo senhor,pelas pessoas infelizes e despreparadas,mas no acalentarem-me em meio a uns destemidos seres humanos que auxiliaram-me à chegada, em momentos, sorri e apiedei-me de ti...amei a quem a vida deu-me enquanto viva, mas ao dar-me a luz,sucumbira a vida.
Meu coração é forte,sobrevivi a tudo, mesmo porque fui entregue a uma família que por mim fez, o que o senhor não teve a coragem e a honradez de fazer...Criaram-me, deram-me um nome a honrar e o fiz, ao longo destes meus vinte e oito anos de vida que passo a sua procura, desde que meus adotivos pais a verdade contaram-me.
Não sei se irmãos ou irmãs eu tenho, não lhes sei a idade, se parecem-se comigo, não os culpo se existirem , mas culpo ao senhor por não haver dado-me a oportunidade de os conhecer, como conheço aos meus irmãos, filhos de meus adotivos pais,não sei também, se eles sabem de minha existência, mas havendo partido do senhor com sua indiferença a minha vida,presumo que eles nem cogitem se devem ou não ter algum irmão que desconheçam...
Sei , apenas que existo , e que estou apenas tentando o conhecer, mas me é difícil saber por onde começar a procurá-lo. Apélo ao seu bom censo, se é que tens , e se algum dia sentistes algo pelos que deixastes sem mesmo para traz olhar. Se não sabes ou finge não saber refiro-me a mim e a minha doce mãe.
Não tenho no momento, como saber da verdade, mas a procuro, se me for possível deixarei exposta esta missiva, para que a leiam, qualquer um que tenha a consciência pesada de ter praticado tal ato, como o senhor fez, quem sabe sua consciência o recrimine e se me dê noticias suas.
Perco-me a remoer meu passado, e tenho como provas de sua covardia uma certidão do hospital onde nasci,onde consta o nome de minha mãe somente. No espaço reservado a seu nome, apenas a sentença :- pai desconhecido ! É muito para a cabeça de um jovem, que cresceu não sabendo sua origem e apenas ao completar meus dezessete anos vim a saber de toda a verdade. Não lhe sei o motivo de não assumir a paternidade pelo meu nascimento,entendo isto como a mais pura covardia de um homem, e esta carta que escrevo é para que você a leia, e quem sabe,mesmo agora, arrependa-se de sua covarde atitude para com minha mãe, e para comigo.Não que esteja lhe pedindo algo, mas para que você sinta no peito a vergonha de ser um covarde, pois não desejo nada de sua pessoa, Acho que dentre alguns milhares de homens que conheço, por força de minha profissão, não conheci ainda nenhum que pudesse rotular de covarde assumido.
Tenho sob minha responsabilidade, algumas centenas de pessoas, pais de família, homens que me vem a presença, e choram, para que eu lhes dê oportunidades de melhorarem seus salários, para que possam arcar com a educação,saúde,e atenderem o princípio básico de sustentabilidade dos filhos, não para pedirem-me a prejudicar a criação de suas proles.
Não passa-me a cabeça, o fato de acreditar que você abandonou minha mãe, quando soube de sua gravidez,que virou-lhe as costas quando a soube neste estado, senti isto ainda quando encontrava-me em formação uterina, e acredite, muito chorei pelo fato. Mas saiba que não chorei pelo senhor, mas pelo sofrimento causado a minha doce mãezinha. Ah...como senti o seu sofrer...pelo seu sofrimento,as vezes, em seu útero,movimentava-me,para que ela
sentisse minha presença, a pedir, para que tivesse forças para trazer-me á vida para eu dar-lhe o amor por ti negado , covardemente...
Saiba, não quero prolongar mais a escrita desta Carta a um desconhecido , pois o único amor que tive em minha vida foi o de minha mãe...e este, não esquecerei jamais, mas em saber-me filho de um homem desprezivel e covarde, prefiro não conhecer-te jamais.
Despeço-me, com a certeza de haver dito nestas linhas da falta que senti de um pai, que fosse verdadeiro, verdadeiro homem na expressão da palavra, e que esta sirva de exemplo a muitos outros, que não pensem nas conseqüências de seus atos libertinos,que se esqueçam de serem homens de verdade.
Até nunca mais.
Julio Piovesan
20 setembro de 2012
Publicado em 09 de abril de 2013