Carta de Melíria ao seu pai (carta ficcional)

Sei que estranharás o “querido pai”, mas, como nunca, agora sei o que significa isso, ser querido, e ser um pai. No meu caso, mãe. Faz muitos anos que não nos vemos e não nos falamos, e sei que talvez ambos nunca mais aconteçam. Sinceramente acho mesmo que nem mereço algum tipo de alô e de satisfação da sua parte. Mas não é por mim que escrevo.

Há oito anos que o senhor foi embora para Portugal, e juro que desde o primeiro dia procurei por notícias suas. Só achei o teu contato há bem pouco tempo, e a minha ansiedade de falar com você, de saber como você está, transformou-se rapidamente em medo, em angústia. Ninguém suporta várias rejeições seguidas. Hoje eu sei bem disso.

Não vou falar nada de mim, porque sei que você não está nem um pouco interessado. Só gostaria de informar que o senhor é avô, de uma linda menina chamada Sílvia. É, é em sua homenagem mesmo.

Mamãe hoje vive em estado de demência, não reconhece mais ninguém, está com Alzheimer bem avançado. Eu temo que isso possa ser genético e um dia me afetar. Caso isso aconteça, lembra-te que tens uma neta, e que se chama Sílvia.

Ass: Sua filha Melíria