À MINHA MÃE

Monte Alegre, 28 de Maio de 2008.

Querida mãe, saudades...

Há algumas semanas, venho pensando muito em vocês, lembrando da roça, sinto saudade da minha infância. Mas é uma saudade gostosa, daquelas que a gente sabe que sente, simplesmente, porque foi completa, perfeita, não preciso voltar pra consertar algo, tudo foi feito, vivido sentido... (pausa para a emoção).

Lembro das brincadeiras na Quixabeira:

• Meu curral de “buzo” (hospedeiro da lesma!), melhor dizendo, era uma fazenda completa, igualzinho ao do meu pai, tinha trator, cocheira, barragem... Quantas brigas com Merinho por que o meu era o mais bonito! Também , Niado me ajudava em todos os detalhes, ficava uma miniatura de fazenda;

• Meu balanço, quantas brigas com Niado por causa das cordas do curral ou mesmo o cabresto do cavalo dele!

• O buraco que abríamos pra brincarmos de enterrar as pernas, como Merinho era malvado, pilava com tanta força que demorávamos muito pra sair!

• As três birocas e o triângulo para a ximbra, quantos cascudos levei porque era a menos habilidosa entre Merinho, Niado, Teté...

• A “pista” para corrida de obstáculos com carrinhos de lata e madeira feitos engenhosamente, pelo meu querido Niado. O meu sempre virava primeiro!

• Minha casinha de boneca com móveis de lata de óleo, feitas por mim, mas como eram mal feitos eu me machucava, então Niado refazia-os pra mim.

Lembro da sua máquina de costura, quantas agulhas eu quebrei fazendo roupa de boneca ou me aventurando em fazer roupa pra mim!

Quantas panelas eu queimei brincando de boneca na minha “casinha”! Feita de madeira e palha, na qual eu fiz um fogão à lenha igualzinho ao da senhora, através do qual eu acabei incendiando a casinha assando castanha no meu fogão!

Lembra quando eu tinha pesadelo e ia pra sua cama? Eu ainda os tenho.

Lembra quando a senhora me batia e eu ficava chorando e dizendo “ô mãe”? Ainda digo isso, quando “a vida me bate”, só que em silêncio.

Lembro da senhora trazendo da roça, “buzos” pra mim e pra Merinho.

Lembro da senhora cantarolando ou assoviando uma música enquanto costurava. Ás vezes me pego cantando essa música que na hora eu não sei de onde tirei, mas que está guardada na minha memória...

Lembro que eu e Merinho plantávamos milho no canto de uma roça qualquer. Nossa! Era muito bom ter uma roça!

Lembro quando eu tomava banho no final da tarde e ia te dar um beijo toda cheirosa... Sentávamos no alpendre pra ouvirmos a Ave Maria, que passava na rádio AM às 18:00hs.

Depois o tempo passou... e hoje, ser adulta é matar um leão todo dia. Mas pra quem teve a infância que eu tive e tem a família que eu tenho, pode superar todo o resto!

Obrigada!

Sua para sempre,

Ana Cátia