MINHA ESTIMADA AMIGA, NOSTALGIA NÃO É SAUDADE
"É longa a madrugada para quem ama impossivelmente. Morre-se pouco a pouco, um pouco a cada dia... Pior que a dor da saudade, é a dor da notalgia."
minha resposta:
A nostalgia é um perigo eminente para o espírito alerta. Vem a calmaria depois de tudo ter sido arrasado pelo furacão impiedoso, uma espera que se curte respirando lentamente, quase suspensa, espera-se o pior como se fosse entretenimento. A nostalgia é um estado que mina a força da perseverança, nada constrói ou propõe, quase não perturba e, por isso mesmo, é bem vinda. A nostalgia causa prazer porque dói devagar como a faca que ainda está no lugar em que foi cravada. O coração ainda bate sob menor pressão como se falhasse, quase surdo, já que não lhe convém dizer mais nada. A nostalgia é prima-irmã da saudade.
Já a saudade guarda o inteiro do vivido, o verniz da superfície do sentido, aquilo que teria sido melhor se não tivesse tido fim. Guardadas por precaução imagens, aromas, cores, qualquer detalhe, números, até latitudes e longitudes, uma previsão do tempo, a sensação térmica de um instante. É das habilidades da saudade agregar valores a tudo isso e mais, a quase tudo. Porque pode animar o coração triste, pode livrar da culpa quem se arrepende, pode encurtar distâncias e mover planaltos intransponíveis. Aproximaria os amantes que se encontrem amargurados pela dúvida. A saudade guarda em si a promessa de uma continuação e propõe desfechos transitórios: enquanto posso sentir ainda posso. (Agir não convém senão por conveniência e rima.)
A nostalgia é abraço de medusa, aperto de mão de Midas, é salmo na voz da seria. A nostalgia é a língua muda da Hidra, é o torpor da morte na fogueira, é vaidade. Nostálgica é a resposta ao convite do silêncio no mausoléu. A nostalgia nasce borrada disforme no desvão das impressões para crescer daninha até a foz da razão
Antônio B.