UM BALANÇO Á TUA VIDA

"No desespero e no perigo, as pessoas aprendem a acreditar no milagre. De outra forma não sobreviveriam." (Erich-Maria Remarque)

Pedes-me um tempo para fazeres balanço á tua vida.

Mas eu não sou boa em matemática e não me sei fazer contas e balanços. Não sei o que é esse balanço só conheço o do baloiço do sonho. Tu queres ter os pés bem assentes na terra eu só quero voar nos teus braços Agarras-me a minha mão e dizes-me que me queres proteger dos perigos. Pedes-me o mundo com as mãos fechadas e o que cabe la dentro é tão pouco. Esqueces que às vezes quando falha o chão, o salto é sem rede e tens que de abrir as mãos.

O tempo fez-te desaparecer por entre as brumas da maré, onde se esconde a minha dor. O tempo relegou-te. Pedes-me um sonho para juntar os teus pedaços mas nem tudo o que parte se volta a colar numa nova vida. Vais, mais uma vez me deixar palavras de esperança espalhadas pelo ar e eu vou voltar a sonhar, sem saber onde encontro a realidade. Entrelaço os meus dedos nos espaços vazios dos teus, procuro-te por entre as ondas mansas do meu pensamento. Por muito que pronuncie o teu nome, o vento nada me traz e a distância ainda te afasta mais de mim.

Às vezes gosta-se de uma mulher por não haver outra por perto de quem se possa gostar, às vezes gosta-se de uma mulher por lembrar outra mulher de quem se gostou, ás vezes gosta-se por se estar cansado de gostar demasiado de outra mulher, às vezes gosta-se de uma mulher por se ter gostado muito de outra mulher que deixou de gostar de nós e precisamos de tudo para a esquecer. Às vezes tu dizes disparates como se fosse um discurso muito serio, e eu fico muito séria, a ouvir-te e a tentar descobrir em que caso me situo.

Então respondo-te com o mesmo discurso e digo-te que ás vezes também se gosta de um homem só porque nos faz falta alguém que nos leve a jantar, que se gosta de um homem porque o corpo tem intermitentes exigências, que se gosta de um homem porque não se gosta de outro homem, que se gosta de um homem por se gostar demasiado daquele homem, que se gosta de um homem porque precisamos dos braços de um homem para nos agarrar, que se gosta de um homem ainda que não se descubra uma única razão porque se gosta de um homem só.

Amo-te tanto como te odeio. Tu gostas apenas do meu corpo e não de mim. Mas toma atenção. Quando me das o teu corpo e eu te dou o meu numa espécie de troca em que cada um depois já não sabe qual deles é o seu, não esqueças que o teu corpo pode ser mais meu do que teu. O teu pescoço onde demoradamente deposito beijos, é meu, pelo menos todo o tempo em que a minha boca o agarra, e enquanto a minha boca deixa de ser minha para te pertencer. Por isso é que o nosso beijo é uma união perfeita,porque a minha e a tua boca deixam de ser de cada um de nós e transformam-se apenas no músculo do amor.

Quero que gostes de mim e eu de ti até não pudermos mais, para sentir o mistério de sermos só nós dois a gostar assim, e mais ninguém, para me ver de vez livre de mim, para cancelar o mundo que me ata ao fundo, para deter a recompensa do prazer e o alivio que ela sempre traz, para vencer dominar vingar tudo o que ficou para fazer.

E se eu não tivesse corpo, achas que seria mais fácil? Era sem dúvida muito mais fácil. Se eu não tivesse corpo dizia-te ao ouvido, sou eu meu amor e beijava-te eternamente. Olho para a frente sem saber o que vai ser de nós. O meu corpo está entre nós, estará sempre entre nós. Não é que eu não gosto do meu corpo. Vou escrever nele para que o possas ler sem te sentires tão perdido. Não meu amor, tu não sabes o que queres. Nem sabes se queres. Eu sei que preciso de ti, para me sentir bem. Dás-me a tua mão, e pedes que te segure bem, tens medo que te deixe cair. Estás perdido dentro de ti mesmo, precisas de te encontrar.

Prende-me no mar dos teus segredos. Faz-me adormecer nas tuas ilusões. Embala-me nos teus sonhos. Ao teu lado o céu é sempre azul e uma gota é um oceano de luar. Preciso apenas de pouco de ti. Mas se me deixares viver no hábito da tua ausência então posso não precisar nada de ti. Por isso, não me deixes viver sem ti. Se me habituo a estar só, a viver sozinha e a lidar com a solidão, talvez te esqueça e não me lembre que o que eu mais quero é estar contigo.

Amo-te o suficiente para não saber viver sem ti, para não viver sem te ver, sem tocar na tua pele quente, sem entrelaçar os meus dedos nos teus, bem apertados para ter a certeza que estás ali e não vás querer fugir de mim. Admito que não sei viver sem te beijar, não sei estar deitada no meu sofá sem ter a cabeça no teu colo enquanto adormeço com as tuas festas no cabelo. Não me deixes viver sem ti, e passar a achar a tua ausência uma bênção em vez de um sacrifício. Por tudo isto, peço-te que não me deixes sem ti. A tua beleza alastra pelo mundo fora, preenche todos os lugares vazios e passeia-se na minha rua. Amo-te muito, cada vez mais. Não sei o que fazer.

Tery

Tery
Enviado por Tery em 16/03/2013
Reeditado em 29/03/2013
Código do texto: T4192226
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