Se puder, conte para os seus amigos
Eh meu nobre e querido amigo, parece que o mundo perdeu o brilho. Ando tão distante de casa que às vezes penso que estou foragido. Me procuro no escuro das sombras das árvores, assim, sinto que estou quase invisível: pouco me vejo... desapontado é pouco! Meus versos perderam as rimas, minhas palavras ficaram nuas, meus sonhos se tornaram uma realidade oca e crua antes da hora marcada... nada explica coisa alguma dentro da minha cabeça obtusa. Mas nem tudo está perdido, ainda me restam os ipês que enfeitam as balaustradas do velho Motel onde residem as minhas mais doces lembranças.
Você deve estar pensando que fiquei louco, isto sempre fui, só que agora minha sandice está mais acentuada, está à flor da pele, até os leigos conseguem ler em meus olhos o quanto tudo isto veio à tona. Para que você tenha uma ideia mais clara do que estou falando, é só você imaginar que ontem eu era um pote de mel, hoje, vinte e quatro horas depois, sou apenas um jarro de água potável pela metade da outra metade.
Mas como eu lhe disse, nem tudo está literalmente perdido ou acabado. Isto eu aprendi com a minha filha de um ano e nove meses. Quando conto histórias para ela e a narrativa parece ter chegado ao fim, ela logo diz: e aí! E aí... ainda me restam as lembranças do dito Motel. Nele rejuvenesci alguns anos, pois a Flor que regava os meus sentimentos, exalava perfumes doces, quase imperceptíveis, mas isto não era problema, pois os sabiás que voavam de um lado ao outro dos ipês, faziam com que o aroma das pétalas roxas e amarelas, embrenhassem pelas frestas das janelas dando um toque marginal ao ambiente.
As quatro paredes eram simples. Não havia nada que eu pudesse dizer: ual!!! Mas as sombras que compunham os nossos movimentos pareciam incansáveis: ora retorcidas, ora longilíneas, ora angelicais, ora estupefatas... como devem ser! Embriagados pela dinâmica dos fatos, nos agasalhávamos um ao outro como se fôssemos a cama e o cobertor. Isto sem falar que o nosso idioma era composto de duas ou três palavras no máximo, palavras essas que nem nós mesmos conhecíamos os verdadeiros significados, apenas os imaginávamos ao nosso modo. As luzes vinham das ranhuras da porta de entrada, às vezes mais intensas do que o necessário. Na verdade nem precisávamos de luz: nossas mãos, braços e pernas, estavam sempre a postos, só conjugávamos o improviso. A perfeição dos toques é que dava brilho às nossas vidas. Afora os sabiás, tudo que movia ou tinha vida própria do lado de fora, era supérfluo, corriqueiro. Ou seja, não nos fazia o menor sentido prático.
Pois é meu amigo, para mim os Motéis são as casas dos deuses, para outros não passam das moradas dos demônios. Lá eu me vejo em outros mundos: me divirto, me lembro de Dionísio, de Zeus, de Afrodite e até de Tupã. Para mim não existe um investimento tão vantajoso como esse. Provavelmente eu seja menos afortunado dos que aqueles que aplicam seus vultuosos recursos em Wall Street. Mas, como diz a minha filha... e aí...!?
Eh meu nobre e querido amigo, parece que o mundo perdeu o brilho. Ando tão distante de casa que às vezes penso que estou foragido. Me procuro no escuro das sombras das árvores, assim, sinto que estou quase invisível: pouco me vejo... desapontado é pouco! Meus versos perderam as rimas, minhas palavras ficaram nuas, meus sonhos se tornaram uma realidade oca e crua antes da hora marcada... nada explica coisa alguma dentro da minha cabeça obtusa. Mas nem tudo está perdido, ainda me restam os ipês que enfeitam as balaustradas do velho Motel onde residem as minhas mais doces lembranças.
Você deve estar pensando que fiquei louco, isto sempre fui, só que agora minha sandice está mais acentuada, está à flor da pele, até os leigos conseguem ler em meus olhos o quanto tudo isto veio à tona. Para que você tenha uma ideia mais clara do que estou falando, é só você imaginar que ontem eu era um pote de mel, hoje, vinte e quatro horas depois, sou apenas um jarro de água potável pela metade da outra metade.
Mas como eu lhe disse, nem tudo está literalmente perdido ou acabado. Isto eu aprendi com a minha filha de um ano e nove meses. Quando conto histórias para ela e a narrativa parece ter chegado ao fim, ela logo diz: e aí! E aí... ainda me restam as lembranças do dito Motel. Nele rejuvenesci alguns anos, pois a Flor que regava os meus sentimentos, exalava perfumes doces, quase imperceptíveis, mas isto não era problema, pois os sabiás que voavam de um lado ao outro dos ipês, faziam com que o aroma das pétalas roxas e amarelas, embrenhassem pelas frestas das janelas dando um toque marginal ao ambiente.
As quatro paredes eram simples. Não havia nada que eu pudesse dizer: ual!!! Mas as sombras que compunham os nossos movimentos pareciam incansáveis: ora retorcidas, ora longilíneas, ora angelicais, ora estupefatas... como devem ser! Embriagados pela dinâmica dos fatos, nos agasalhávamos um ao outro como se fôssemos a cama e o cobertor. Isto sem falar que o nosso idioma era composto de duas ou três palavras no máximo, palavras essas que nem nós mesmos conhecíamos os verdadeiros significados, apenas os imaginávamos ao nosso modo. As luzes vinham das ranhuras da porta de entrada, às vezes mais intensas do que o necessário. Na verdade nem precisávamos de luz: nossas mãos, braços e pernas, estavam sempre a postos, só conjugávamos o improviso. A perfeição dos toques é que dava brilho às nossas vidas. Afora os sabiás, tudo que movia ou tinha vida própria do lado de fora, era supérfluo, corriqueiro. Ou seja, não nos fazia o menor sentido prático.
Pois é meu amigo, para mim os Motéis são as casas dos deuses, para outros não passam das moradas dos demônios. Lá eu me vejo em outros mundos: me divirto, me lembro de Dionísio, de Zeus, de Afrodite e até de Tupã. Para mim não existe um investimento tão vantajoso como esse. Provavelmente eu seja menos afortunado dos que aqueles que aplicam seus vultuosos recursos em Wall Street. Mas, como diz a minha filha... e aí...!?
BSB, 16/03/13
Um grande abraço,