CARTA AO MINISTRO
Escrever carta é coisa do passado, eu sei. Hoje as pessoas tuítam, feicibucam e torpedeiam. Muito mais prático e rápido. Mas, como o caso exige uma certa solenidade, hoje eu vou enviar uma carta. O destinatário é o Ministro Joaquim Barbosa.
“Caro Ministro: Sempre devotei o maior respeito a Vossa Excelência, ao lado de milhões de brasileiros. E nem é tanto pela história de superação pessoal e pela cultura jurídica, polida em universidades estrangeiras e embalada em diferentes idiomas. Também não é (só) pela cruzada contra os mensaleiros e outros rapinadores do dinheiro público. Mais do que isso, eu o admiro, à distância, porque acredito que Vossa Excelência é um homem bom. Aquela bondade que dificilmente uma pessoa que alcança a sua posição conserva. Bruto, mas bom. E os brutos também amam.
Entretanto, essa admiração acaba de sofrer um abalo. É claro, eu entendo que ser bipresidente (STF e CNJ) é um fardo muito pesado, agravado pelos seus problemas de saúde. Mas, no exercício dessas funções, chamar um profissional (também no exercício de suas funções) de idiota e mandá-lo chafurdar no lixo, é um deslize quase imperdoável, ainda que sucedido pelo inevitável pedido de desculpas.
Fico mais preocupado ao observar um crescendo nessas reações. De início, eram as rusgas com alguns colegas (pavio curto?) e uma certa alergia no trato com os advogados (viés do MP?). Recentemente, Vossa Excelência colocou todos os magistrados no mesmo saco, porque atuariam “pró impunidade”. Agora investe contra um repórter antes de ele abrir a boca. Não, não estou sugerindo que se deve bajular a imprensa nem retribuir com atenção desmedida a imagem de paladino da moral que ela lhe atribui. Não é isso. Mas, lembre-se: a mão que afaga é a mesma que apedreja. Ademais, receio que, com essa última carraspana, e outras que temo venham a seguir, Vossa Excelência esteja contribuindo para trincar a harmonia entre os poderes e gerar desassossego na sociedade e no âmbito do próprio Judiciário. Além de dar combustível à turma do “quanto pior, melhor”.
Será que Vossa Excelência não percebe que isso é tudo o que os mensaleiros querem, enquanto ainda estão soltos? Atrito, intriga, arranca-rabo. Enfim, dividir para continuar reinando.
A toga pesa, eu sei. É uma vestimenta de chumbo. A cruz também pesava nos ombros de Bento XVI. Mas não estou sugerindo que faça como Sua (ex) Santidade. Não abdique de sua missão. Tenho uma sugestão mais simples. Respire. Relaxe. Faça meditação. Esqueça Paris e venha passar um domingo em Inhotim, em comunhão com a natureza e com magníficas obras de arte.
Mais do que isso: ouça uma boa música. Como o outono vem aí, eu recomendo As Quatro Estações, de Vivaldi. E, principalmente, leia um pouco de poesia. Leia, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade: “Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.”
Faça isso e- quem sabe - suas dores de coluna vão para o espaço. No lugar delas, paz no coração.”