Culpa[DO]
Eu não posso deixar de seguir os rastros que eu deixe ao longo do caminho, por segurança, caso eu me perde-se e precisa-se voltar depressa. Não posso deixar de seguir a lógica que só meu coração entende.
Não funcionamos igualmente.
Não pulsamos na mesma velocidade, e nossos passos embaraçam na medida que caminhamos juntos.
Não podemos.
Não devemos.
Mas queremos, desejamos e optamos por seguir assim.
Não posso cobrar de você uma compreensão que você, talvez, não esteja disposto a me ofertar. Ou que, talvez, quem sabe não tenha aprendido ainda. Não sei, nessa vida nunca se sabe demais. Sabe-se o suficiente para sobreviver enquanto há vida em nós, ainda que resquícios dela. E sobreviver, é tudo que tenho tentado fazer estes dias sem você aqui do outro lado comigo. Não posso te pedir pra entender os motivos pelo qual eu hesito em seguir por este caminho, mais um dia se quer. Não posso implorar teu perdão, por que não me julgo culpado de fato, mas também não me sinto inocente. E além do mais, ainda que fosse não o mereceria.
Quem sabe, talvez eu tenha sim um pouco de culpa nisso tudo. Talvez meus passos tenham sido dados sempre com muita fragilidade e insegurança, por receio de que o chão que caminhávamos se partisse como em um lago congelado, e afogássemos, e congelássemos, e morrêssemos. Talvez, não tivesse certeza de certas coisas, e talvez, nunca tenha. Mas aprendi que só o tempo me trará a segurança de que preciso para poder afirmar que as escolhas que faço são as certas, ou as erradas. Só o tempo me fará dar meus passos com mais certeza de quem sou e de onde estou. Talvez o tempo me ensine a saber e reconhecer o que realmente quero, me ajude a entender outras tantas que já julgo saber, me ajude a as decifrar.
Com o tempo a chama, meio que apagou-se aos poucos, e o quente aqui dentro se tornou frio. Extinguiu-se aos poucos, e eu não sei ao certo o por que. E quanto a isso sim, eu me sinto culpado.
Culpado por me apaixonar por você, aí do outro lado.
Culpado por ter pressa em te ter e por não ter, não conseguir seguir.
Culpado por ter deixado a porta entre-aberta sabendo que vez ou outra, eu tenho vontade de jogar tudo pro ar e ir embora.
Culpado por ter deixado o medo entrar pelas tuas janelas junto com o vento frio, e a insegurança e medo esborrassem em teus olhos.
Eu fui culpado por ter deixado que a carência tenha sido maior do que o que eu sentia por você.
Culpado por deixa-la virar desejo, e esse desejo tomar conta de mim, da minha mente, do meu corpo, do meu coração.
Culpado por não gritar, por não denunciar, por não implorar pela tua ajuda.
Culpado por não querer tua ajuda.
Culpado por me sentir feliz estando ao lado de outro alguém.
Culpado por brincar de amores com você.
Culpado por te ferir e te magoar.
Culpado por essa tua lágrima.
Culpado por essa dor alojado nos teus olhos e em teu peito.
Culpado por desistir.
Culpado por escolher seguir, daqui por diante, sem você meu bem.