RESPOSTA DO ESCRITOR MOACYR SCLIAR

Fevereiro de 2013

Prezado Amigo Aristeu

Foi com muita satisfação que tomei conhecimento de sua predileção pelos meus trabalhos literários. Não há maior alegria, para um escritor, do que saber da existência de leitores como você. Porque, muito mais do que extravasar sua criatividade, colocar para fora seus sentimentos, a razão de ser do literato é chegar até o leitor, pois, sem este, nada justifica a nossa presença. Isto é, não basta escrever, há a necessidade primordial de agradar quem lê.

Fiquei sabendo, também, que você começou a se interessar pelos meus trabalhos, através dos casos que escrevia na Folha de São Paulo, baseados em notícias do jornal. E que, num de seus livros, você usou, igualmente, dessa estratégia, para escrever seus contos.

De forma alguma isso caracteriza o plágio, uma vez que as histórias têm como tema fatos diversos, contados à sua maneira, com argumentação e enredo frutos de sua criatividade.

De fato, houve uma celeuma com relação ao livro As Aventuras de Pi (Life of Pi), de autoria de Yann Martel, que, supostamente, tenha sido plagiado de minha obra Max e os Felinos. Em artigo que publiquei no jornal Zero Hora, em 09/11/2002, esclareci minha posição sobre o assunto, não enquadrando o caso como plágio, uma vez não ter o conhecimento exato do vocábulo, nem haver uma definição concreta do mesmo. Como também, Yann Martel declarou ao mesmo jornal Zero Hora, que tomou conhecimento de meu livro, no The New York Times, através de uma resenha feita por Herbert Mitgang. Esclareço, outrossim, que Martel colocou um agradecimento à minha pessoa, no prefácio do seu livro. Por fim,espero que todas estas coisas se esclareçam e que cheguemos a um desfecho justo e consensual. É possível que esta situação, que já ocorreu no passado, ocorra no futuro e será bom, portanto, que tenhamos regras claras de relacionamento entre escritores e entre as obras. Para que possamos, nós, os autores, escrever nossas obras e para que possa o público lê-las com prazer e com emoção.

Sobre O Exército de um Homem Só, também de minha autoria, ora sua leitura, espero que esteja gostando. O Companheiro Mayer, o Capitão Birobidjan, personagem central do romance, é uma figura à parte. Sonhador, destemido, fanático pregador de utopias, enfim, sua saga leva o romance a uma leitura emocionante.

Sim, estou num lugar maravilhoso, onde reina a paz, a alegria e tudo aquilo que desejamos ter. Ideal para o exercício da literatura.

Agradeço sua participação como um de meus leitores, bem como os comentários elogiosos à minha produção literária.

Vá em frente nessa sua caminhada pela arte de escrever, com muita calma, paciência, na certeza de que, um dia, verá sua obra reconhecida.

Grande Abraço!

Moacyr Scliar

OBS – Ficção. Moacyr Scliar, escritor gaúcho, médico, partiu em

27/02/2011, aos 73 anos. Exatamente dois anos.

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 27/02/2013
Reeditado em 28/02/2013
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