RESPOSTA AO SEBASTIÃO

Fevereiro de 2013

Amado irmão Sebastião

Estou muito feliz por receber sua nostálgica carta. Fique tranquilo, pois, jamais estaria chateado por você não ter se despedido, naquele

trágico dia. Deus foi justo! Você está no lugar certo. Sua passagem por este mundo foi marcada pela bondade. Bom filho, excelente irmão, pai extremoso, bom marido, trabalhador, só poderia ganhar o Paraíso.

Como você bem alertou, esse nosso contato é restrito aos tempos de minha infância, e nosso posterior convívio. Eu e você! Acho que nenhum de nossos irmãos irá me contradizer. Você foi o meu irmão mais chegado! O amor fraterno existiu entre todos, e ainda existe. Todavia, pela diferença de idade, era justificada nossa maior aproximação! Outra coisa: o fato de nos separarmos quando de sua ida ao colégio interno, isso me calou fundo! Sentia muito sua falta, não tinha aquele que me ensinou a chutar a bola (...e sua canela!). Tenho quase certeza de que foi nessa altura da vida que me tornei um sentimental, um saudosista! Que, até hoje, carrego no mais profundo de minha alma.

Que tempo feliz aquele, das reuniões familiares, dos almoços, das canções napolitanas, quando você conseguia emocionar a todos nós, pelo sentimento dado em suas interpretações. Sim, Mamma era a mais emocionante, não havia quem não chorasse.

Como eu vibrava vendo suas atuações no futebol! De fato, você era bom. Suas arrancadas com a bola, desde a intermediária de seu campo, até o gol adversário, com a língua enrolada entre os dentes, ninguém lhe segurava.

Mais tarde, as situações se inverteram! Eu fui para o internato. Mais uma separação! Aí, era eu quem deixava a família, naqueles domingos gostosos, para me ausentar por uma semana! Eu adorava o colégio, mas, naquela hora de me despedir da Mamãe, do Papai, de todos, especialmente você, era doloroso. Ainda bem que por apenas uma semana, diferente de seu tempo de internato em Campinas, somente vindo nas férias. E, também, eu estava mais perto de Santo André, em São Paulo.

Como gostava, nas folgas, de lhe ajudar na mercearia. Atendia a “freguesia” com prazer, todos conhecidos, da vizinhança! Inesquecíveis os anões de origem alemã clientes dela! Moravam na Vila Assunção, no chamado Clube dos Alemães, perto do hoje Hospital Brasil. Dizia-se que vieram ao Brasil numa “troupe” de circo, e devido a Segunda Guerra Mundial, não puderam sair do País.

E quando o Papai comprou o Chevrolet 39? Como você curtiu aquele carro. Aí apareceu o Tião galanteador. Não havia menina que resistisse a seus encantos. O trio formado por você, o Tonico Tombolato e o Eurico Tchalau era o terror das moças de Santo André e adjacências.

Nunca me esqueço do primeiro jogo do São Paulo, no Pacaembu, que você me levou! Mais ou menos em 1949, Torneio Rio-São Paulo, contra o Vasco da Gama. Este possuía um grande esquadrão, quase toda equipe base da Seleção Brasileira, com Barbosa, Augusto e Clarel; Eli, Danilo e Alfredo; Tesourinha, Maneca, Ademir, Jair e Chico. E o Tricolor, que não ficava por baixo, com Gijo, Savério e Mauro; Bauer, Rui e Noronha; Luizinho, Sastre, Leônidas, Remo e Teixerinha! Perdemos por 3 a 1! Grande jogo!

Com o seu casamento, em 1953, e a venda da Mercearia Dom Bosco, nos distanciamos. Acabaram-se as noites ouvindo o Moraes Sarmento, nossas idas para Torrinha, e todos aqueles momentos de imensa felicidade que vivemos juntos, para cada um seguir sua vida! Eu no Colégio Arquidiocesano!

Espero que esteja tudo bem com você. E, só pode estar, pois, vivendo entre os bons, você usufrui das delícias do lugar reservado àqueles que somente fizeram o bem, enquanto na Terra.

Fique em paz, rogue por nós perante o Pai, e tenha certeza de que, sinto muita saudade de nosso convívio.

Quando tiver uma folga, não deixe de me escrever!

Abraços e beijos deste seu irmão que o ama!

Saudade!

Seu irmão Zé

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 26/02/2013
Reeditado em 27/02/2013
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