Por Cely
Sr. Hoste,
Não quero ter que fazer algo para que você seja mais alegre, que demonstre seus medos, e erros.
Quero ser clara, e ter isso de sua parte também.
Sabe que me peguei lembrando os dias sem suas palavras eróticas e me assustei olhando para o espelho e dizendo seu nome cochichado, um susto, um pulo se não estivesse ajoelhada lavando o chão. Chão no qual me fiz sua em sonhos extremos aos que tenho de noite.
Fico me questionando com as facas da cozinha se um dia faria tudo, ou um pouco do que deixei gravado nas bordas do caderno de receitas de bolo. Penso que sim quando me pego pensando que não. É confuso conseguir pensar ainda nisso, depois de tudo que não aconteceu ontem no parque com as crianças brincando na quadra de área, e você me ligou dizendo sem cansaço que estava cansado de não podermos nos ver naquele dia. Mas se não podíamos nos ver, por que insistiu em ligar? Por que me proporciona tal conflito?
Você, um homem distinto, político, e bem conhecido, se preocupar com uma dona de casa sem rumo, sem poderes, com apenas uma pensão de um falecido. Por que se interessar por tão dependente criatura? Para fazer-me sofrer com seus presentes de madames?
Suponho que deva contar a suas folhas A4 tudo que se passou na sexta-feira, era noite, quando não devia estar lá, mas eu estava ao seu lado, não me esqueci ainda do que vi quando o telefone tocou e o vinho derramou de sua taça nos lençóis daquele hotel que na verdade não me lembra onde fica, e disse que já tinha uma “vítima” de sua história.
Seria eu um objeto de seus delírios?
Serviria eu, apenas para tornar seus momentos desocupados em flagelos?
Sei o que quer de mim, sei que você pretende usar minha inocência para garantir seu trabalho?
Ou para usar-me as escondidas de seus leitores?
O que fez comigo não sei, mas quero saber o que quer de mim.
Espero respostas…
Com curiosidade e dúvidas, Cely.
*Carta fictícia