Por Ander Goy
Eu resolvi então responder sua carta, como sempre sem muito ânimo, e acusadora, de implicância antiga.
Saiba que apesar de você ter me achado abatido, como você disse, destruído, estou muito bem, me sinto bem.
Então se dê por equivocado. Muitas coisas mudam.
E mudei quando estava aí, esse foi o fato, e mudei novamente ao sair, o que foi ótimo pra mim, mudar.
Não sou uma ameba. Se sobreviver [e sim, pouco, mas vivo] é por pura vontade e ação minha, certo?
Então como me diz que concorda com o que dizem, que sofro imensamente por meus desejos?
Claro, julga pelo modo de como eu vivia aí. Mas você não mora mais comigo. Faz pouco tempo, sim, mas é independente, não estou em inércia como estive antes.
E isso é bom apenas pra uma pessoa. Eu. Exclusivamente.
Não moramos juntos mais por fatos bem conhecidos. Sua incapacidade de aceitação e meus sonhos, que você considera perigosos, insensatos, e mal planejados e que são sim alcançáveis.
[Se acha tudo mal planejado, me ajude a colocar no caminho mais fácil, ou certo, e pare de criticar algo que você também não alcança. Quais são mesmo seus sonhos? “Não existem mais!” Palavras suas. Isso pode te tornar inútil por essa consciência. Se tornar fadada a um destino que você mesma vai traçar. Você pode sofrer também. Pois não quis sonhar comigo, mas ainda assim vive numa falsa realidade. A minha realidade paralela pelo menos eu sei que existe apenas em minha mente, consigo separar isso, mas você cria a sua e a vive, e carrega muitos com você. Mas sei, e sabemos que não é isso que você quer.] Você ainda pode sonhar!
Não tenho a tal vida de sonhador que a Júlia disse que você disse e que vão por aí dizendo, e todos seus dizeres, o que é tudo um “blábláblá”. Tenho meus pés firmes. Minha cabeça pode ter muitos mundos, posso viver de um jeito diferente, ter minhas crises, ou o que for que você sabe que isso não me impede de ser bom, e firme no que faço.
- Só pra você saber ela me passou uma conversa de vocês, que por sinal é bem "interessante" sobre mim. Bem estúpida quero dizer, por mais realista que você tenha sido, não vejo motivos pra outras pessoas saberem o que rolou e /ou deixou de rolar entre nós. Não duvido também que ela seja alguém que te odeia, pois vamos combinar, essa menina deve ser alguém bem perto de você, te conhece de perto, tem informações suas e até minhas, pois te rodeia e me rodeia em todo momento inspecionando e trazendo informações, das quais pouco me importa, mas insiste em dizer. -
Não tenho o meio de amigos que julga que eu tenha. Mas também não estou só. No mundo talvez, mas em minhas particularidades há pessoas, verdadeiramente interessadas, que foi bem o que nos faltou.
Sim, estou bem, não me prendo ao meu comportamento que tinha em sua casa, e me satisfaço com meus desejos de acordo com o que posso. Corro atrás de mim mesmo, me descubro e me encontro pra mim mesmo. Comigo e por mim.
Meus desejos, os desejos que diz que me fazem sofrer são claros, sempre foram, nunca sofri por eles. Você participou de alguns, então pode dizer. Uns morreram, outros ainda vivem, outros virão. O que desejo agora eu estou alcançando.
O que desejo? Nada que você desconheça.
Minha faculdade. Minhas apresentações de violino na festa de outono.
Solucionar aquele caso da minha mãe. [Está em andamento, arquivei por um tempo, mas está ativo agora] Por isso vou continuar como auxiliar de detetive com Vicente em seu escritório, com casos mais sérios que estão mofando na estante dele.
Descobrir quem me envia aquelas horríveis missivas com remetente desconhecido. [Estive relendo algumas, e me interessando pelos assuntos. Posso até passar a gostar de recebê-las]
Você, agora, deve saber como é bom poder se dedicar somente a si mesmo, se sentir vivo por si mesmo, como me sinto agora.
Se existe alguma preocupação tua quanto a mim é oculta. Pois olhei em teus olhos naquele dia que nos vimos no parque, e apenas vi dó. Dó. E dó é o que se tem por criaturas incapacitadas, e mesmo assim por injustiça, por superioridade. O que enojo.
Estou pegando nojo desta sua atitude, se se preocupa venha até mim e me questione como as pessoas fazem, não somos bichos estranhos um pro outro. Não faz bem em dividir nossas coisas com quem seja.
Com muito sono.
Afetuoso ainda, Ander Goy.
*Carta fictícias