Regando segredos
Adormecer já num estágio de decadência é providência do fluxo. Agora acordar cheia de luz em pleno sono desidratado de emoções, ou que se possa dizer sem esperança, é uma causa indispensável do fuso horário emocional. E como tudo que vem do sentimento é forte e arrasta mesmo os corações trincados é um arremate certeiro. A palavra certa para descrever os momentos covardes de espera não está escrita, está num raio de sol que passou por nós numa certa manhã curiosa e cansada, que se deixou levar para o sul prolongando tal sentimento. A proporção de uma espera não é contada nem enquanto se arrasta pela noite desvalida de fome, mas pelas vezes que essas almas sofridas se encontram de modo imaterial, como espectros de carne, podendo se alimentar, recobrar o desejo e cumpri-lo, se fartar de si. Talvez o sentimento de distância se mantenha duramente por não haver memória suficiente para reproduzir com calor o que se passou de tão contente ao se completar no selar de desejos cumpridos.
Caminhos que cruzam caminhos que já eram cruzados não se desfazem.
Mas a espera ainda dói. E o medo é pavoroso.
O “verde” que me faz transportar de um mundo exausto e já vulgar para um jardim fértil, sendo cultivado cautelosamente à espera de novas estações, cativante com detalhes especiais, é o mesmo que me conforta e acalma, não importa se me desespero quando sinto o calor que ele proporciona na alegria que carrega e exala em mim, a firmeza que fortalece meus nervos, a febre que me causa quando não pode se aproximar. É um sentimento de cor esverdeada, desabrochando e se firmando nesse solo cheio de fadiga.
Tudo faz parte de uma caminhada em plantio. E não é tão distante a vista da colheita.
[É uma resposta?]
Resposta ao texto Testando palavras, de Gabriel Lopes.
*Carta verídica