NOSSO ANIVERSÁRIO DE DEZ ANOS

Aos prezados leitores, com os devidos , mas poéticos, parabéns a todos nós:

Talvez, pelo meu título, o leitor tenha aberto este texto a esperar um outro conteúdo de escrita como, por exemplo, uma prosa poética.

De fato, se levarmos em conta que a realidade, seja ela boa ou não tão boa assim, sempre faz poesia, então eu o convido para nessa missiva comigo poetizar minha concreta visão de Brasil atual a fazer desta minha catarse literária uma análise profunda do meu assustado coração de brasileira, aqui sem nenhuma outra intenção a não ser a de...simplesmente escrever.

Hoje entendo que não há um melhor instrumento para se analisar a História do que vivendo o "dia -após -dia" dela, e um bocado de tempo de vida juntamente com um coração "antenado" para as já quase extintas boas referências do melhor, já nos são suficientes para percebermos os produtos de vida da "nossa" mais recente História que comemoramos tão abobalhadamente.

Porque nesse contexto, li que a nação brasileira comemora seus dez anos de avanço social, fato que coroa nossos mais recentes gestores públicos.

A comemoração é efusiva...e todo aniversário é um grande marco.

Assim, culpados e inocentes em meio aos nossos produzidos resultados " fins" refutam todos os "meios" para comemorar.

Confesso: eu só não entendi muito bem o que comemoram, mas, frente ao todo do cenário atual, entendimento é virtude para poucos. Poucos que cada vez mais se rareiam por nítida intenção programática.

É nessas horas que tenho a certeza do quanto precisamos da poesia para SOBREviver, exatamente como precisamos do ar para viver, posto que a poesia, eclética por natureza, também fantasia e transforma a mais dura realidade a até ingenuamente nos iludir a alma.

Comemoramos nossos dez anos de avanço social...ah, e como precisamos da poesia para os nossos infindáveis e fictícios palanques que norteiam nosso tão empedernido chão.

Como precisamos dos nossos corações sempre bem vermelhos de paixão por um país que tenta, mas tenta muito acreditar para continuar acreditando que nossas efusivas comemorações têm presente sentido Histórico rumo ao futuro que anseia por melhores e substanciais enredos .

Nosso entusiasmo cresce em meio a massa dum enorme bolo de receita totalmente improvisada...e negligenciada.

Ouve-se mais um tiro ao longe, algo sem mira, sem alvo, e mais um pedaço de país tomba ao chão...sempre a comemorar.

Os bastidores do teatro aliciam a todos os poderes que poderiam fazer a grande diferença da nossa História.

Plateias alucinadas aplaudem o inconcebível e chicoteiam até a intangível liberdade do pensamento.

Atualmente, sequer nossos vizinhos oprimidos podem corajosamente "blogar" pelo direito da livre opção por existir.

Nosso aniversário de dez anos se vale dum País agonizante e algo paralisado, maquiado por números inexistentes na prática, cenário que paradoxalmente aplaude o seu próprio grito de dor.

Somos uma gente boa, altruísta, não restam dúvidas, posto que não sanamos sequer nossas dores mas prontamente nos achamos no direito de julgar a voz dos gritantes sofrimentos alheios.

Quem tem telhado de vidro...

Aqui, somos a própria poesia alienada em comemorativa opressão.

E é dessa crônica e cáustica poesia que me sirvo para narrar nosso atual poema social instituído por decreto da poesia militada, em nome da Democracia que sem cidadania está muito longe de existir.

Decerto que também comemoro o todo, algo do meu jeito, porque a despeito do tudo ainda sei fazer versos ascórbicos com algumas gotas de doçura, doces rimas que milagrosamente brotam da perene inquietação do amor que me pulsa e ainda me impulsiona pelas causas prioritárias e urgentes do meu país.

Coragem Brasil!- porque não há mal que sempre dure, todavia o verdadeiro bem...é para o todo sempre de qualquer futuro, mesmo para aquele que, ao longos dos nossos comemorativos dez anos, jamais foi planejado.

Que fiquemos na esperança e na paz, na presente medida do impossível.