Papel e caneta para um louco na sarjeta
Já não era novidade nenhuma que eu não conseguiria caminhar tão rápido como seus pensamentos. A essa altura, você provavelmente já desembarcou em outro paraíso; desta vez um que possa te acompanhar para todos os lugares que você planejar ir.
Sei que meus passos era lentos e que a revolução era cruel, mas ainda me sinto enfraquecido pela falta de tentativa. Não da minha, não da sua parte, mas de ambas.
Os sorrisos podem ter continuado, mas eu sabia que no fundo cachoeiras iriam ser criadas e desempenhariam seu papel com mais crueldade do que a falta de alguém. Ao mesmo tempo que elas jorravam elas te secavam, te deixando a mercê de uma loucura instável e destrutível.
Quanto a mim, não sei ainda o que farei. Tenho alguns anos de vida para decidir entre minha decadência ou minha derrota, ambas pelas mãos do meu maior inimigo: o tempo.
Não tenho as bençãos que você recebeu, e carisma não é meu forte como é o teu. Mas acredito que conseguirei me sair bem pelos longos caminhos que ainda tenho que rastejar.
Ontem, tudo que era nosso morreu. Exatamente no lugar que te encontrei: nas montanhas. Eu sabia que seu olhar decretava o fim, do mesmo jeito que o meu já decretou o começo. Não quero te encontrar para devolver pertences que abandonou comigo, pois nada seu foi deixado para trás. Você pegou tudo que lhe pertencia e desapareceu, levando contigo o pouco que restava das minhas virtudes e ganâncias. Mas tudo bem: se levou, sei que foi por bem.
Por fim, declaro que posso estar louco, mas não quero ser tirado desse eterno devaneio. Aqui dentro da minha solitária cabeça eu sou quem sempre quis ser, e ninguém pode me impedir.
Posso não ser seu paraíso, nem o sonho que você sempre pediu pra que se concretizasse. Mas sei o que fazer para ser o melhor para você.
Uma pena que eu sempre fui o pior nisso.
Adeus. Até o dia em que meus parafusos afrouxem permanentemente.