Ainda é cedo, amor

Me escuta.

Eu sei que você já perdeu a conta de quantas vezes eu pedi pra você me ouvir e sei que eu exagero nos monólogos e no drama todo que faço quando acho que tô com a razão e te contrario. Eu sei que você acha que eu falo demais e eu sei que falo mesmo. Eu odeio frases longas, mas fica o aviso: eu vou dizer o que sinto por você.

Começou como uma brincadeira, uma provocação. De alguma forma, eu senti que você queria ser desafiada... e aceitei. Eram tempos difíceis, sabe? Nunca é fácil brincar de super homem quando você acaba de se decepcionar com pessoas importantes ou mesmo com o rumo que a vida toma sem nos avisar. Eu senti que precisava esquecer essa confusão de sensações por um tempo, eu precisava ficar sozinho e deixar de lado essa vontade louca de me completar com outra pessoa. Eu senti, mesmo aos pedaços, que era o momento de me guardar e me preservar, entende? Estava indo tudo bem, eu estava mais forte, mais confiante, mais seguro, mas aí você apareceu e me bagunçou completamente, virou meu jogo, me acordou.

Eu não sei se estou falando baixo... você está me escutando?

Eu penso em como foi difícil te convencer de que as coisas poderiam dar certo... e fico tão agradecido e feliz por você ter acreditado em nós, assim, juntos. Perdi a conta de quantas bobagens eu te disse, de quantas piadas sem graça eu contei ou das inúmeras provocações bobas e fora de hora que fiz. Tudo, absolutamente tudo pra chamar a sua atenção. Tudo espontaneamente planejado. Ou planejadamente espontâneo. Um improviso ensaiado, se é que você me entende. Eu precisava estar na sua vida, precisava ter certeza de que você me notava. E como você se fez de difícil, meu bem!

Cada resposta curta aos meus textos gigantes. Cada sorriso sincero que eu arrancava daquela cara amarrada e cheia de mau humor. Cada conversa até tarde, cada carinho escondido, cada disfarce necessário. Ok, admito, eu poderia ter sido mais rápido, mas será que já te convenci de que a espera valeu a pena? Você é tão difícil!

Eu sei que você nunca viveu nada disso. Sei que é tudo novo e que te assusta. Sei que você é jovem e que tem vergonha de conversar sobre certos assuntos. Eu sei que você prefere o silêncio bem mais do que eu. Sei que te irrito facilmente. Sei até que você gosta, bem lá no fundo, dessa provocação besta. Sei que você está sorrindo bem mais do que antes. Sei que até o seu sono, o seu precioso sono, você tem trocado por cafés da manhã. Sei que eu reclamo e sou ranzinza. Sei que sou um velho, um chato e que pareço insatisfeito com um monte de coisas. Eu sei, linda... eu sei que exagero nas brincadeiras e que você não gosta quando eu te faço cócegas. Sei que você odeia quando eu aperto a sua barriga. É que eu gosto tanto...

Cada vez que te olho, sinto arrepios. Eles percorrem o meu corpo e não sei bem onde eles se escondem. Fico te olhando de longe e você nunca entende o porquê, até briga comigo, mas eu não ligo. É mais forte do que eu. Quando te toco, desconheço explicações bioquímicas ou neurocientíficas, nada importa. Dane-se o número de sinapses ou que tipo de receptor foi acionado... eu só me importo em estar ali, pelo tempo que puder, com você.

Eu falo tanto, meu amor, tanto que até me perco nas palavras difíceis e nos asteriscos que corrigem a minha gramática. Você fala tão pouco, eu até esqueço de me certificar se você está me acompanhando.

Você está me acompanhando, né? Por favor, me escuta!

Cada vez que você diz ‘’sim’’, uma estranha paz toma conta do que sou e me dá certeza de que tenho a sua confiança, de que você quer o mesmo que eu. Cada nova mensagem, cada surpresa, cada gesto. Eu não consigo entender como você me faz tão bem... E de modo algum isso é uma reclamação, que fique claro!

Ainda não contei pra minha família, mas contei pras estrelas... elas tiveram inveja de mim...

Ainda é cedo, amor... eu torço para que o seu silêncio continue me desafiando, assim como a minha ironia te desafia. Eu quero continuar sendo a sua exceção, sem prazos ou validades. Eu quero te dar beijos de boa noite e de bom dia, mesmo que você durma o tempo todo. Eu quero rir da sua preguiça e do seu medo de aranhas. Quero um abraço apertado e um beijo demorado antes de sair do carro. Quero elogios e segredos. Quero cinema ruim, cinema bom, até cinema sem filme. Quero pipoca e Parmegiana, sem culpa. Quero bolo antes do almoço. Quero lençol na grama e lábios que não se mexem de tanto nervoso. Quero ir devagar e ver até quando você se controla. Quero beijo roubado e cabelo comprido. Quero nuca, pescoço, língua atrás da orelha. Quero pés descalços, unhas curtas e covinhas no nariz. Quero manchinha no olho, mãos sem anéis, roupa transparente e mistérios. Quero dentes, lábios, hálito a qualquer hora do dia. Quero perfume. Quero cheiro, pele, suor e calor. Quero ventilador ligado, água gelada e cabelo despenteado. Quero respiração profunda, oxigênio, corpo quente e mylka derretido. Quero socorro, bala de caramelo e sementes aladas. Quero foto espontânea, batom vermelho e coreografia impossível. Quero madrugada e caixa de fósforo no nariz. Foto de biquíni, de máscara, com caras e bocas, sorrindo, só você. Quero viagem demorada, celular com sinal, aula de geografia sem graça. Quero piscar de olhos. Quero bronzeado vermelho, horror a camarão e aliens saindo dos braços. Quero confissão, cuidado, carinho e consolo. Quero que você olhe pra trás quando se despede. Quero que sorria mais nas fotos. Quero que pare de machucar as suas mãos. Quero brincar de ser feliz e perder a hora no recreio chamado ‘’nós dois’’. Quero dividir o guarda-chuva, a batata recheada, a mesma cama. Quero cabelo molhado, banho, produção e maquiagem. Ou não. Quero sábado, domingo, até segunda de manhã eu quero! E mais, quero filme que você não entende, ar condicionado no último, shorts curtos e customização. Você chegou arrecém... e eu não vou deixar você escapar, grandinha!

Me escuta! Você pode esperar mais um pouquinho? Já está acabando...

Eu voltei a me sentir vivo. Voltei a sorrir e a ter vontade de me dedicar a alguém. Tenho tido mais sorte, sabia? Tenho gargalhado e me permitido sentir. Aliás, essa palavra... ‘’permitir’’... te lembra alguma coisa?

Eu sei que o tempo está acabando, mas eu ainda preciso pedir que você me escute. Com mais atenção do que das outras vezes, tá bem?

Eu não vou conseguir explicar ou te convencer do que sinto, mas essa é a forma que encontrei pra dizer que você é e sempre foi muito especial pra mim. Desde sempre.

Satisfeito? Eu não quero saber se estou satisfeito ou não. Eu quero me sentir amado e feliz... e isso você tem feito, meu amor!

Essa noite, vou fechar os olhos e desejar que o tempo passe depressa. Vou tentar me distrair ou ler poesias de Drummond. Vou brincar de gente grande, em Franca ou Paris. Vou esperar por você mais um pouco. E mais um pouco. E um pouquinho mais. E mais... E mais... E... mais... E.

Mi, escuta:

Eu te amo! (‘’eu acho que parte de mim sabia, desde o segundo em que eu te vi, que isso iria acontecer’’).

''Vou sair. Boa noite. Beijo''.

Com carinho e toda atenção,

do seu,

J. C. S.

13/02/2013.