Carta a um amigo.
João Pessoa, um dia na Universidade.
“Oi amigo,
Parece que foi ontem que saí de Juazeiro, já faz dois anos que entrei na UFPB!!!! Daqui a pouco estarei de volta. Lembra de como comemoramos o resultado do vestibular, ô CANAAA! Cara lembra de quando falávamos de que quando eu voltasse ia poder abrir minha clínica, ter minha casa meu carrão e curtir a vida despreocupado, pois é, algumas coisas andaram mudando na minha vida por aqui desde o ano passado, quando resolvi ficar as férias do fim do ano em João Pessoa.Bicho, digamos que meu mundo virou de cabeça para baixo!
Há quanto tempo agente não se corresponde? Heim!! Acho que já te disse o quanto eu amo o meu curso. Lembro-me que comecei o curso meio desanimado, porque queria fazer outro, e teve um tempo que o queria, mas não sabia se era eu, os meu parentes ou amigos. Mas esperei um pouco para ver no que ia dar. Senti a necessidade de procurar outras coisas que me fizessem identificar com o curso, afinal achei muito cedo para desistir. A universidade parece muito com a nossa escola, professor dando aula falando, falando, falando, agente copiando, copiando, copiando, mas pelos menos o CRE está legal. Fique meio que desacreditado pensava que aqui na universidade ia ter muita pesquisa, muita gente descobrindo coisas novas, no entanto vi um monte de professor com umas transparências ainda datilografadas, e amarelas, outros que não querem dar aula, outros que não sabem o que estão falando e ficam se desdizendo!!! Fui atrás de outros estudantes mais experientes do curso, pedindo que me ajudassem a entender melhor o curso. Tive sorte, encontrei pessoas que amam o curso e me deram dicas do que procurar na Universidade além da sala de aula: projetos de extensão, monitoria, pesquisa, movimento estudantil... Nossa! Fiquei encantado, pois percebi como a Universidade tem coisa pra oferecer, além da salinha de aula. Quase que desisti do curso, vi que os outros cursos reclamavam da mesma coisa, mas tive a sorte de entrar num projeto de extensão, fui para uma comunidade carente, via uma galera que pensa diferente do resto que quer está na universidade para receber um diploma se formar, montar uma clinica e ganhar dinheiro, como eu pensava.
Cara, morri de medo no inicio, tinha gente de todo tipo e eu, estudante universitário de classe média, entrando na casa de gente que eu nem conhecia!!!! Mesmo assim continuei. Aquilo me tocava... Percebi que tinha tantos problemas logo ali bem perto da universidade e eu, reclamando de tanta coisa que tinha pra estudar e dos problemas da Universidade, sem fazer nada. Fui pra casa e não consegui dormir! No dia seguinte, contei pra galera, eles me ouviram, mas nem deram importância, só me chamaram de loucos. Pensei em desistir, mas me senti realmente afetado, não era mais o mesmo! Cada vez mais me interessei pelo projeto e fui descobrindo que alguns dos estudantes que também eram do projeto faziam parte de um tal de movimento estudantil, eram do CA. E eu??? Já entrando no ritmo da coisa, fui participar de uma reunião do CA. Fiquei num dilema enorme, de um lado alguns alunos e professores perguntando o que eu ia fazer numa comunidade carente e me juntando com gente que num gosta de aula, não ia conseguir mudar nada e me desgastar a toa, podia ficar doido, quem poderia resolver eram os políticos, mas são todos safados, do outro lado tava uma galera de professores e alunos que acham que as coisas da universidade e na sociedade estão totalmente erradas, e que não reclamam apenas quando estão com os estudantes, discutem com os professores a melhor forma de mudar a aula, a formação e a universidade, a comunidade, denunciam quando os professores não cumprem suas obrigações. Descobri que existe uma universidade paralela, a dos projetos de extensão e do Movimento Estudantil, cara é incrível, você sabe que a coisa que eu mais odeio é política, mas participei de várias reuniões e encontros e estou começando a chegar a algumas conclusões. Primeiro descobri que o que eu odeio não é política, é politicagem e político corrupto, que tem uma função e não realiza e está ali apenas pelo dinheiro e não pela melhoria da população. Com isso todos concordam, que nesse meio todos sabem o que ocorre e a maioria não diz nada para poder ganhar junto. Vi que esse meu ato de não gostar deles é uma atitude política, pois eu estou sendo crítico e não aprovo a coisa errada, e devo me colocar no sentido de defender como as coisas devem ser. Caso contrário, vou ser igual aos que sabem e ficam calados. Outra conclusão que cheguei é que a universidade está com muitas coisas erradas e que os alguns professores são iguais aos políticos corruptos, porque a função deles é a de provocar o estudante a ter um senso crítico, e a buscar nos conhecimentos dos estudantes, deles e da população soluções para a população e conhecimento para os três, e que devem pensar no salário como conseqüência do seu trabalho, que deve ser justo. As transparências amarelas as aulas de falação, falação e falação e as enrolações são politicagem e os estudantes sabem disso, mas porque não se movem, nada muda, será que são iguais aos políticos que querem alguma vantagem disso tudo ou tem medo? E essa história de que política não presta é conversa para que ninguém busque seus direitos e tente mudar o que está errado isso sim é política. Ah e nem todos os professores são iguais, existem uns poucos que querem mudar as coisas. Eu ainda vou ter mais três anos de universidade, mas vejo que estarei fazendo duas ao mesmo tempo.
Ai já viu né?! Comecei a discutir meu papel na universidade e fora dela, fiquei me questionando!! Caramba, NÃO ESTAMOS CUMPRINDO O PAPEL DA UNIVERSIDADE!! A sociedade não está recebendo por aquilo que paga através dos impostos!! Por quê??? Porque a universidade só tem formado profissionais para o mercado!!! Fiquei desesperado!! O que dizer àquelas pessoas da comunidade que me esperam todo o sábado??? Será que elas terão que pagar duas vezes quando precisarem da Fisioterapia? Será que poderão??
Ainda tenho três anos de curso, mas vejo que não seriam a mesma coisa se eu tivesse ficado apenas na sala de aula, por que o que os outros estão vendo lá eu também estou aprendendo, mas queria muito que todos pudessem ver as coisas que estou aprendendo aqui fora, afinal se todos estivessem juntos, como o movimento estudantil está querendo, resolver as coisas iria ser muito difícil de arrumar desculpas para as coisas não mudarem.
Abração,
Por Anderson Dias, Ângela Maria e Priscila Silva.