Uma Pá de Realidade (Carta a um Amor desiludido) ou Na Toca do Tatu
Muitas vezes possuímos alguns sentimentos enraizados, que não encontram uma forma de extravasarem, de saírem da gaiola, de serem compartilhados e de saltarem para fora em forma de palavras, de confissões, confidências e amparo no ombro de quem pode entendê-los, respeitá-los e aconselhá-los. Assim, a vida fica mais sofrida, mais doída de viver. Os momentos vividos ficam mais difíceis de passar e é sujeito a gente afundar-se na escuridão da solidão e das feridas não cicatrizadas. Tudo aquilo que não conseguimos expressar permanece reprimido dentro da gente e é sujeito gerar mais transtornos e até mesmo levar a pessoa a perder a saúde e o equilíbrio na vida. Por outro lado quanto mais conseguimos colocar para fora o que vai lá dentro da gente, mais vivos ficamos, crescemos com a vida, removemos o que não é bom e resolvemos nossos problemas com mais facilidade.
Uma série de barreiras que acumulamos ao longo do tempo e muitas vezes trazemos da infância nos fazem ter medo, vergonha, orgulho e outros sentimentos menores, que impedem de compartilhar aquilo que vivemos e sentimos lá no fundo do nosso ser. Ao contrário, se nós abríssemos com quem confiamos, se déssemos uma chance de sermos aconselhados ou simplesmente a oportunidade de sermos ouvidos, tudo poderia ser mais fácil, menos doloroso, mais leve. O simples compartilhar do peso que carregamos nos faz mais fortes, pois expõe nossas fraquezas, mas ao mesmo tempo, põe para fora aquilo que dói lá dentro, nos faz encarar de frente a realidade dos nossos problemas e dificuldades e desse modo já provamos para nós mesmos que temos coragem para enfrentar o que nos aflige. Além disso, nos auxilia a definir melhor o que realmente sentimos e nos faz mais fortes junto com quem nos escutou, com os amigos, com Deus. A repressão dos nossos sentimentos nos tornam pequenos, indiferentes perante a vida, invisíveis a nós mesmos e aos outros. Quando tomamos a inciativa de agir, de falar, de expressar, de colocar para fora o que está dentro de nós, podemos diminuir as barreiras entre o eu e o mundo em que vivemos. É como diz o autor Mark Nepo em seu "Livro do Despertar": “Tudo aquilo que desabrocha do nosso eu profundo e sai pela nossa boca é que determina nossa vida. Nada pode ficar retido, contido dentro da gente, pois tende a sucumbir com o tempo ou atrapalhar nossa jornada para a felicidade.”
Uma vez ouvi uma frase de um professor dizendo que “a realidade é um banco duro e pouco confortável” e, muitas vezes, comprovei isso na prática, embora eu saiba que exista um outro lado da realidade bem mais confortável e amorosa. Ela é dura e fria, quando não queremos ouvir a verdade, quando teimamos em não aceitá-la como realidade, quando o infortúnio bate em nossa porta e pensamos que tudo acabou, quando lutamos contra a correnteza e não encontramos onde nos apoiar, quando parece que não existe saída para as nossas dificuldades. Porém, pode ser terna e amorosa quando a aceitamos de coração e entendemos que o mundo gira eternamente, independentemente da nossa vontade, que todo acontecimento é passível de superação por mais dolorido que seja, que uma semente só germina na hora certa, no seu devido tempo e se não germinou é porque não era a hora para germinar e que muitas outras sementes virão prontas no seu momento certo. Sempre é tempo de corrigir nosso rumo e mesmo diante de toda adversidade ainda podemos ser felizes e crescermos em conhecimento e sabedoria, com os tropeços na vida.
Não podemos ser pessoas pouco inteligentes para querer aquilo que não nos pertence. A vida de uma pessoa só a ela e a Deus pertence, mais ninguém é dono do coração, dos sentimentos, da consciência e da compreensão das outras pessoas. Foi Deus quem fez assim. Deu essa liberdade ao homem e, toda tentativa de tolhê-la foi infrutífera, sofrida e cheia de marcas negativas na história da humanidade.
Além disso, existe uma Lei da Natureza relacionada ao plantio e a colheita das nossas ações, sendo que o plantio é livre mas a colheita é obrigatória. Se buscarmos em nosso interior veremos que também já ferimos alguém que nos amou. Com indiferença, com esquecimento, com ignorância, com palavras ou até mesmo quando deixamos de sorrir quando alguém implorou em silêncio um breve sorriso em nossos lábios. Assim, já estava escrito no livro da Natureza que também provaríamos o gosto amargo do desprezo e da solidão, mesmo que seja uma única vez, para conhecer o lado sofrido que a vida também nos oferece e valorizar o lado amoroso que também existe. Quando isso acontece, é preciso focar nosso pensamento no aprendizado a ser extraído da situação vivida, no perdão, na compreensão, pois do contrário, um turbilhão de sentimentos é sujeito sufocar o passar dos dias e ficarmos como uma nau sem rumo no mar da vida.
Os fios invisíveis do nosso destino estão traçados desde o momento em que nascemos, só não nos é dado o direito de sabermos seu curso, mas isso não impede de lutarmos para mudar a nossa vida e sermos um vencedor.
Como seria nosso futuro se as coisas acontecessem como queríamos? Será que daria certo vivermos com alguém que não gosta da gente o suficiente? Com certeza que não. Mas se não amarmos e não nos entregarmos, como saberemos se amamos e também somos amados? O amor às vezes dói quando não é correspondido, mas nada é em vão nessa vida. Resta sempre a experiência, a sabedoria acumulada e a paciência a ser exercida.
Às vezes, preferimos conviver com os estranhos, que não sabem dos nossos sentimentos, a compartilhar nossos pequenos, pobres, fracos, mesquinhos e do(í/i)dos sentimentos. Esse é um dos motivos que as pessoas não mais se falam, nem mesmo se olham, o medo tomou conta de todos... “não fale com estranhos”. Essa é a recomendação chave da nossa segurança nos dias de hoje.
Muito bem, a realidade é que eles (os sentimentos) ficarão mais tempo lhe pertubando (ponto final).
O mundo é muito mais largo e vasto do que nossa pequena visão alcança. Deus ainda é maior do que tudo que podemos imaginar. Mas a escolha é sempre nossa.
A vida, assim como o mundo, dá muitas voltas. Como uma grande roda em espiral ela gira sem parar. O tempo traz consigo a esperança e leva todos os sentimentos negativos, esses são transitórios, enquanto os sentimentos positivos são perenes, eternos.
Você tem a vida toda para amar.
No final tudo dá certo e a vida será bem melhor.
Te amo.
Florianópolis, 22/05/2012
Lua Nova