O que já não se pode expressar
Era tudo questão de tempo. E questão, apenas, de deixar a ficha cair e encontrar uma maneira simples de seguir adiante. Já era tanto tempo perdido, que algumas horas mais não faria a menor diferença. Assim foi feito. Primeiro, um domingo no bar. Quando o encanto de um momento apagou, mesmo que sutilmente, as dores vividas por meses. Depois, uma conversa que alteraria todo o rumo daquela história. Aparentemente sem fim. Mas que deixava a certeza de estar somente no começo. Foi uma conversa muito agradável. Isso ele não podia negar. Mas uma conversa que, com toda a sua absoluta certeza, ele sentia ter nascido de um momento de carência. Daqueles que, qualquer palavrinha carinhosa que viesse e pronto: quem a enviou já te ganhou. Mas havia empecilhos. Maiores do que se poderia perceber. Empecilhos que impediriam que aquela nova história se iniciasse. Embora o sentimento, aos poucos, começasse a nascer. Diante de tudo isso, não lhe sobrou alternativa. Era questão de impedir ou, então, assistir ao mesmo filme. E isso ele já não queria. Ele estava decidido a não mais sofrer. Mesmo que tal sofrimento, somado alguma luta qualquer, valesse a pena. Ele já não queria mais lágrimas. Pelo contrário, queria sorrisos. O que ele não desejava era que, mais uma vez, o seu sorriso custasse a lágrima de alguém. A mesma que lá atrás, mesmo que distante, ele sabia ter causado. Mesmo sem ter intenção alguma. Nessa ocasião era o amor quem o movia. Agora, era a razão! E ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, uma hora ou outra, ele teria que dar ouvidos a ela. Não poderia se manter tão insensato por tanto tempo. Ou cego, como preferir quem agora lê. Algo era certo: ele não estava mais disposto, de forma alguma, a causar dor em alguém. Agora, que viessem apenas as rosas. E somente as rosas. Afinal, de espinhos, o mundo já estava cheio!