Desalento

Se as paredes pudessem falar, te diriam quais as musicas que canto pra ti.

Enquanto algumas arrancam o riso, outras impedem meus suspiros.

Se os móveis pudessem me escutar, chorariam a minha decadência.

Em cada canto desse quarto, guardo os olhares, os abraços, e também nosso silêncio.

Ao mesmo tempo que acredito em nada, acredito em tudo.

Se eu jurei não me aproximar demais, rezei pra que fosse momentâneo.

Se eu sonhei em não desanimar, acordei com a garrafa sorrindo pra mim.

Moldando meu caráter na esperança de alguém surgir e me puxar pra dentro da própria vida.

Foi como implorar por reconhecimento, mesmo não tendo feito nada relevante.

Não foi surpresa alguma. Não foi.

No começo eu tentei, eu lutei, eu me iludi.. Pensei que fosse conseguir chegar à algum lugar. Agora eu olho no espelho e dedico meu tempo à rir do meu fracasso.

Olha pra mim e critica a barba na minha cara. Diz que não sou homem pra você, e troca as palavras.

Eu não criei as expectativas, eu só apunhalei meu orgulho.. Quem sabe assim eu não sinta mais a poluição que inunda todas as veias e artérias em mim.

Tua poluição. Manchando todo meu ser, estar, viver.

Os punhos contra o peito são uma tentativa falha de fazer o coração parar de bater.. por você.

Enquanto minha máscara cai, eu dou as costas pra esses sentimentos..

O que aconteceu com o calor? Por que eu me sinto tão frio? O coração adoece, e dói a cada palavra que é redigida.

O último pensamento antes de dormir, e o primeiro ao acordar. A leve brisa de uma manhã de domingo, e o pôr-do-sol do último dia de outono. O clarear dos meus olhos, e o escurecer dos meus desencantos. O sorriso na minha cara, e o ecoar do meu desalento.

Só me perdoa por não ter tido a coragem, quando tive a chance. Me perdoa lamentar, e cuspir meus pulmões enquanto grito as canções que me lembram você. Me perdoa escrever, e não levar as palavras até você. Me perdoa por eu desacreditar em mim.

Enquanto me despeço, finjo não me importar.