- Pra Dizer Adeus
Tenho uma certa intimidade com as palavras. Sentimentos tão calados são expressados tão fortemente por minhas escritas que eu deveria ser mais que a metade de um poema. Começar um relacionamento com uma rima e terminar com um carta, longe de ser o que os olhos pedem, mas é tudo que o coração precisa para sentir-se, finalmente, aliviado.
Nesses últimos meses, acredito que já faz um bom tempo, tenho observado todos os movimentos que você fazia, não sei se para ver onde eu estava errando ou você errava, na verdade, creio eu, que era apenas um maneira de aprender a lidar tanto comigo quanto com as pessoas que estão comigo, isso é algo que todos devíamos fazer, é clichê, mas poucas pessoas realmente fazem: conviver com os defeitos dos outros.
Com o passar do tempo vamos atribuindo formas diferentes. Aprendemos a conviver com nossos defeitos e fazemos o possível para que aqueles que estão nos nossos dias possam lidar com cada uma de nossas falhas sem que nos apontem o dedo ou que nos digam palavras que nos ferem o ego. Com o passar do tempo, lento porém intenso, nos aperfeiçoamos - ou pelo o menos é isso que deveria acontecer - cada vez mais. E tê-lo rente ao meu ombro mas sem saber manejar minhas imperfeições desprendeu cada pedaço dos nossos sentimentos, aqueles que ainda teimavam existir.
Pensei muito nas coisas que já aconteceram e que estão acontecendo. Para conviver comigo você precisa conviver com meus defeitos, jogá-los em cima de mim não ajuda, porque eu já os conheço de muito tempo e nunca os neguei . Tenho manias gritantes, deixo sandália no meio da casa, acordo mau humorada, não gosto de música alta e tenho prazer em confrontar tudo e todos. Sou tudo isso, eu sei, e você não sabe o esforço que faço para controlar, para, ao menos, agir diante daqueles que sempre se ferem com isso, você, por exemplo.
Mas é difícil, muito difícil, conviver com pessoas que, apesar de saberem de todos os seus defeitos, não conseguem entender o seu lado. Não é com você, não é só você, eu posso estar enganada, espero, mas foi isso que, ao longo desse imenso caminho que percorremos, percebi.
Nos traduzimos e nos entendemos, claro, sobre outras coisas, não sobre nós dois. Não quero ser pretensiosa e arriscar dizer o porquê de todas as ofensas e atritos que nos permeia, desde sempre, desde a primeira tentativa de sermos um par até a última intriga de nossa pseudo amizade.
Não fomos feitos para dividir o mesmo mundo, o mesmo espaço, o mesmo livro. Não sei ser calada e anônima, não posso viver numa fantasia a qual não cabe no meu corpo. Ao contrário de você que nunca soube lidar com meu jeito meio personagem de ser, nem mesmo aprendeu a conviver com minhas implicâncias, apenas evitava, deixava para mais tarde, guardava junto com outras milhões de ofensas de outras milhões de pessoas.
Todo amor vale cada sorriso, cada lágrima, cada esperança de que nossas admirações seriam o suficiente para manter um laço. Mas esse amor nunca foi algo que pudesse fazer com que eu “acostumasse” com nossas diferenças, ou nossa compatibilidade de gêneros. Eu prefiro ficar só pelas memórias do que fomos do que manter algo que nos destrói cada dia que passa.
Chegamos ao ponto de que qualquer falha um do outro, apesar dos esforços disso não acontecer, nos agride de tal maneira que nos tornamos chatos, brigamos, ficamos indiferentes. E lá vamos nós, arrumar malas, comprar passagens, dizer adeus, e depois de meia hora de viagem, voltar ao ponto de partida.
Isso não vai mudar, ou convivemos com isso ou deixamos de lado. Eu não quero ter que estragar as nossas memórias. E toda vez que nós brigamos é isso que acontece, ainda não aprendi a separar seus erros das coisas que nos acontece.
Eu sei lidar com todas nossas injúrias, tropeços e recomeços. Sei lidar com sua falta de jeito com os poemas. Sei lidar com você, mas não sei lidar com a forma que você lida comigo. E por não conseguirmos tantas tolerâncias, façamos apenas um único trato, nos apagamos. Agora somos dois, em caminhos diferentes.
"Quando a última coisa que fazemos é dizer adeus..."