Uma carta para alguém

Mauá, 2 de fevereiro de 2013.

Querido alguém,

Tão difícil foi me lembrar de como se escreve uma carta. A estrutura é simples, mas eu me esqueci.

Normalmente uma carta se inicia com o lugar, a data e uma linha abaixo vem o vocativo: "Querido alguém". Logo após é preciso discorrer sobre o que vai dizer.

Eu esboçaria meus pensamentos, esboçaria tudo que eu deveria ter dito e tudo que quero dizer naquela agenda roxa que fica na mesa dividindo espaço com meu computador.

Isso, uma agenda: aquela com dias e linhas para marcar os horários dos compromissos.

No entanto, a agenda tem esses dias e esses horários. A agenda tem todo o tempo que regra a nossa maneira de organização, nossa maneira de amar, nossa maneira de priorizar e os lugares em que deveríamos estar.

E eu comecei a pensar, e escrevia. Ao ler percebia que o pensamento estava errado. Então eu pensava, escrevia e rabiscava.

Estava em 1 de Janeiro e de tanto esboçar e rabiscar eu cheguei no dia 15, depois veio dia 20 e dia 30 e que diferença isso faz, que diferença isso fez?

Desde que você se foi, eu vivo assim. Ignoro o tempo, ignoro as datas porque agora todos os dias são iguais para mim.

Não existe um querido alguém, não existe alguém. Só existe eu.

No dia 2 de fevereiro eu deveria estar do seu lado, mas tudo o que eu não ignorei nos dias anteriores fizeram com que você fosse para longe. Espero que você encontre quem te priorize porque desde que nos cruzamos, nunca houve nós, nunca houve você: somente eu.

E por fim depois de discorrer sobre tudo o que é preciso dizer, vem a despedida. No entanto, esta veio mesmo antes de eu começar a escrever esta carta.

Tarantula
Enviado por Tarantula em 02/02/2013
Reeditado em 02/02/2013
Código do texto: T4119604
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