ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE

Minha princesa,

A vida é uma explosão de sentimentos. É a felicidade, que vem e passa como passarinhos no céu azul e ensolarado de uma manhã de domingo. É a tristeza, que chega sem pedir nem avisar, maltratando e torturando como um velho tirano nazista. São o egoísmo e a avareza, sentimentos esses que só os mais nobres têm o luxo de desfrutar. É a raiva, que corrói a alma e faz sofrer todas as vítimas e até o próprio hospedeiro. É o amor, inexplicável e impossível. Tão impossível quanto o encontro de nossos lábios em um leve movimento, molhado e doce, que arrebata a alma e o corpo.

Em uma noite sombria, a melancolia toma conta da minha mente. Tudo dentro de mim vira circo. Um circo de horrores, onde o palhaço é um maníaco com uma faca e todo ensanguentado, e o domador de leões doma, com toda a frieza do mundo, minha mente e controla meus atos. Como vencer meu próprio eu? Como vou conseguir derrotar um inimigo que sabe tudo sobre mim?

Choro escondido no canto escuro do quarto. A falta de forças e o cansaço da batalha me roubam a energia de se manter em pé. Se arrastando pela lama, como pobres ratos cobaias,vítimas de experimentos mal elaborados, procuro um lugar onde eu possa me esconder dos inimigos. Sonho no dia que voltarei para os braços de minha amada. Quando irei abraça-la novamente? Quando irei sentir o calor dos seus beijos?

Desde que você me deixou, vivo na solidão de um mundo infeliz. Sem você não consigo enxergar a luz. Só vejo escuridão, dor e agonia.

Escuto gritos por todo o corredor. Gritos de dor insuportável. Mas não consigo ver quem grita. Só consigo ver uma porta no fim do corredor. A porta não está longe, mas quando ando em sua direção, ela se distancia.

Não consigo comer, não consigo andar, não consigo falar. Preso nessa cama de hospital, dormindo acordado, tento superar tudo, o que não é possível. Durante a noite, quando todos estão dormindo, saiu da cama e começo a caminhar. Olho para baixo, mas não vejo nada. Estou flutuando em um enorme espaço escuro. Olho para trás, mas não vejo mais a cama. Tudo que vejo são portas. Portas numeradas de um a dez. Já tentei entrar nas portas, porém, sempre termino no mesmo lugar do inicio.

Hoje eu sei que não tenho muito tempo de vida. Temo que essa seja a ultima das inúmeras cartas que te escrevi nesses dez anos de coma. O médico disse que sofremos um grave acidente e você não resistiu. Agora acredito nisso. Às vezes ouço sua voz me chamando. Mas não se preocupe meu amor. Em breve nos encontraremos, seja no inferno ou no céu. Com você, tudo é um paraíso.

Com amor, seu príncipe.

Gabriel Jucá
Enviado por Gabriel Jucá em 28/01/2013
Código do texto: T4109786
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