O fenecer de um sonho...
Era como um sonho. Eu estava numa casa bem espaçosa com uma porta de vidro (daquelas que deslizam ao abrir) quase de uma ponta à outra da sala e muitas cortinas (que insinuavam um ar de leveza e sobriedade ao mesmo tempo). A porta de vidro ficava direcionada tipo de frente para a rua ou uma varanda bem arborizada... Não haviam muito móveis que a decoravam (a sala), apenas um imenso sofá no formato em L com tons de laranja bem clarinho, alguma mesinha e umas prateleiras com retratos emoldurados cirurgicamente e espalhados sobre ela e algumas esculturas de cristais (além de um espelho sobre esta prateleira que nos dava a impressão de multiplicar o tamanho da sala)...
Havia um jardim juntamente com uma área gramada que dava para uns canteiros repletos de flores maravilhosas... Era um clima gostoso de um final de tarde bonito, daqueles em que as matizes de vermelho e laranja se misturavam e se faziam presentes no pôr-do-sol...
Além disso, havia também um caminhão-baú (daqueles de mudança) estacionado em frente a casa e justamente cuidando de uns móveis que chegavam...
Tudo indicava que aquele lugar me era extremamente familiar, pois despertava em mim um sentimento esquisito, como se a propriedade disso tudo (apesar de não pertencer a mim) era-me algo totalmente afim... Nesta parte que você entra, com seu jeito sempre espevitado, falando e tentando colocar ordem na bagunça e no caos reinante entre móveis e caixas que eram arrumadas nessa sala... Notei seu corte de cabelo diferente da última foto que eu tenho, mas em nada mais podia ser diferente... Era você mesma, puxando o “s” “chiado” de “sexta-feira”, iguais aos cariocas costumam fazer e que eu adorava escutar...
Nunca abracei alguém com tanta vontade como foram estes momentos em que a tive em meus braços...
Sabia que não pertencia àquele lugar tampouco poderia ficar muito tempo... Também era impossível levá-la comigo, pois você acabava de se mudar e dizia-se muito atarefada com toda mudança e todos os detalhes decorrentes desta...
Ali, tive a certeza que nossos caminhos não se cruzariam novamente, pelo menos por um bom tempo... Não que seja levado a essas conclusões através de um ponto de vista egoísta ou da propriedade alheia sobre ti, entretanto, todas essas sensações me confirmaram de forma tácita, a distância imposta por você mesma e que tão habilmente soube interpor entre nós dois...
Nunca esquecerei de teu perfume acalentando minhas brisas e meu ar... Jamais esquecerei dos primeiros olhares que trocamos, do primeiro “oi” que dissemos um ao outro, do primeiro sorriso recíproco, enfim, dos caminhos que me levaram até aqui, nessas linhas e nessa despedida...
Desta vez não é você quem parte. Sou eu que sigo nessa jornada que, outrora pensava finda... Muitas vezes você arvorou para si a alcunha de Quixote em busca dessa felicidade que, de tão simples, negava a aceitá-la...
Desta vez, cinjo-me desta vestimenta de utópico, pois não apenas empreendi uma luta quixotesca, mas busquei o impossível não em seus lábios e seu corpo, mas em seu coração...
Sigo resignado, sem um pouco do brilho com que enfrentei esta batalha, ferido; mas, sobretudo, humilhado em minhas errôneas conclusões de que o amor realmente é utópico, cujo o fenecer deste sonho se faz ante aos receios mais pueris de nossas construções simbólicas e eufemísticas acerca da verdadeira felicidade...
Essas construções desabaram e soterraram o pouco do poeta dentro de mim, e me afastaram da minha poesia perfeita...
Contudo, rogarei novamente aos céus a força necessária para a hora vindima, quando minhas construções estiverem novamente edificadas no alicerce do amor que ainda busco e que achei tê-lo encontrado em ti.
E, nesta hora, sua imagem ainda será lembrada, não com mágoa ou ressentimentos, mas, principalmente, pelo sentimento de amizade, carinho e pela história que poderíamos ter escrito em nossas vidas... juntos.
Um beijo todo especial de quem sempre te amou ontem, hoje e inevitávelmente...sempre.
Ad majora natus