Carta ao (des)apego de Sabrina
Desapegar é tirar o agasalho numa noite de Julho, Sabrina. A pele dói. Dá calafrios. E o corpo inteiro congela.
O coração pede carinho, colo e cafuné. Um afago pra esquentar o frio, pra descongelar a alma. Pra fazer do gelo fogueira, talvez.
Mas desapegar também é querer e não poder. É lutar contra o corpo, contra a mente e contra o coração. Esse último, não mais que os outros, é quem vai te fazer chorar no final do dia. Porque a saudade fica.
Desapegar não tem nada a ver com esquecer, tem a ver com se lembrar e não sentir falta. Lembrar e não sentir falta, repito.
E é necessário.
Doar um brinquedo de infância, emprestar a roupa favorita, trocar figurinhas na adolescência, despedir dos colegas no fim do ano, falar sobre saudade e não chorar, ceder um lugar da fila pra um idoso, contar seus medos e deixar de fazer o que você queria porque sua mãe precisa que você vá com ela ao supermercado.
Tudo isso é desapego.
E é como se lhe fizesse um operatório, sem data pra cicatrizar. Mas daqueles que até a saúde fica melhor quando finda.
Você volta a sorrir, volta a cantar debaixo do chuveiro, volta a correr na chuva, volta a comer feijão tropeiro com a mão e fazer todo o mundo sorrir com você.
Você só precisa de um pouquinho de coragem, Sá. Uma dose mínima. Nem precisa ser a xícara cheia, transbordando. Porque você tem forças. E acredite ou não, suficientes.
Agora vai lá, minha menina. Pratique e me diga. O quanto é bom voltar a sorrir.