Sentimento não tem medida
Como pequenos fatos do cotidiano podem nos aborrecer, deixar-nos muito descontentes com vontade de dizer algumas palavras inapropriadas.
Tomamos uma decisão, meu marido e eu. Meu tio e minha tia também. Cada respectiva família foi cuidar da sua vida em regiões diferentes. Estamos afastados fisicamente por quilômetros.
O físico mostra materialmente à distância, mas os sentimentos não se medem por quilômetros, ou litros, ou seja, lá que medidas existam.
Como medir a tristeza de não ter podido ficar com eles como eu gostaria, o tempo que gostaria, e de não despedir-me da maneira que gostaria. Estávamos juntos todos os feriados, se pudéssemos acho que inventariamos mais alguns. Morávamos na grande São Paulo, em extremos da cidade, verdade, mas não faltamos ao aniversário de nossos filhos nos últimos dezessete anos. Corrigindo, não participei de poucos acho, no ano em que meu filho nasceu com certeza não.
Como medir tamanha cumplicidade. São dois meses que estamos longe, e por causa de um panaca sem palavra estou triste tudo de novo. Ficamos juntos até a transportadora colocar a ultima planta no caminhão. Estou irritada exatamente por causa da transportadora sem palavra, sinto vontade de divulgar o nome dela pelos quatro cantos, para que ninguém mais a contrate. Mas manda-me o bom senso que não o faça porque não imagino que problemas jurídicos me impedem de tal ato.
Além de descumprir a promessa de entregar em um mês a mudança-que levou dois-.
Ainda terceirizou a entrega e algumas coisas foram danificadas. O mais doloroso entre as coisas que custaram suor e sacrifício -que também não se medem- são as orquídeas da minha tia, uma com a idade de meu sobrinho mais novo, 13 anos. Cada uma com uma historia, cada dada por meu tio em uma data importante.
Para esse senhor sem palavra e que sequer tem a coragem de atender ao telefone, gostaria de dizer que cada uma delas significa em medidas mundiais, quilômetros de amor, carinho, dedicação ã família, risos e lágrimas de alegria em cada aniversário, pelo nascimento do filho e nada disso chegou intacto, porque esse senhor que prometeu regar essas tão desprezadas plantinhas não às entregou simplesmente.
Senti alem da minha tristeza de vê-los ir para longe, a tristeza deles mesmos em deixar suas cadelinhas (Nala e Kiara) ficarem para trás, as amizades que fizeram, e sem modéstia nenhuma, sei que fazemos muita falta também.
Para quem esta lendo deve parecer um tanto exagerado e sem muita ordem, mas meu coração sente exageradamente os pequenos fatos de hoje, porque cada dia que se inicia desde a nossa mudança carrega litros de expectativas em acertos, e cada mínimo fato que não saia a contento remexe sentimentos que queremos guardar e não lembrar.
Não quero lembrar que eles estão longe.
Não quero lembrar que cada feriado que tiver será impossível de nos vermos.
Não quero lembrar que não vou abraçar meus gordinhos em seus aniversários.
Não quero lembrar que eles não têm mais suas cadelinhas.
Não quero lembrar que minha tia ficou triste por causa das suas orquídeas.
Quero vê-los bem, prosperando e felizes. E tudo o que acontecer que os afaste de tais sentimentos nem que seja por segundos me entristece também.
Finalizando e repetindo, a tristeza hoje está sendo compartilhada em dois lares em diferentes pontos do Brasil, porque um certo homem não cumpriu o que foi acordado (e regiamente pago). Alias o que tenho visto muito ultimamente. Acho que esta fora de moda ter palavra.