Chuva
Chove na minha cidade, todas as pessoas que aqui moram, parecem que se incrustam debaixo de suas casas como animaizinhos amedrontados pelos trovões. Trancam-se como os velhos antepassados, é engraçado lembrar que quando criança, meu velho pai quando estava em pescaria e precipitava á chover, nós os pequenos, começávamos a rezar para que nada de ruim acontecesse com ele.
Mas, agora depois do crepuscular da mocidade e o amanhecer da maturidade nos sopra a face, sentimos que o mais temível dos trovões já não nos assombra mais como antes... E as rezas aos anjos protetores transformaram-se em meras rugas delineadas na face da preocupação!
Quando a chuva caía molhando a cidade calada e a trovoada obnubilava a paisagem urbana, e dentro das casas as pessoas simploriamente volviam-se e encolhiam-se para as velhas estórias fantásticas... Tele-transportando ao presente lembranças de um passado distante desintegrado pelo tempo e ruído pelas constatações da ciência. Chuva, sobretudo, era sinônimo de saudades para muitos, porque fazia lembrar, e lembrar quase sempre nos trás sentimento de falta.
Nesses momentos de saudades da infância, pessoas queridas que se foram para sempre, nos atormentava o coração com gestos e palavras que apenas persistem na nossa vaga lembrança. E daí, pego-me refletindo o que foi capaz o tempo de apagar das nossas mentes?! Quantas pessoas simplesmente apenas passaram nessa vida, na nossa vida, como essa breve chuva de verão que cai e escorrega. O tempo que sempre mortaliza todas as coisas, todos os gestos e risos que compartilhamos e os momentos de amor que vivemos... Apagam-se na distancia do tempo.
E agora nesse momento sentindo a vida pulsar nas minhas veias como a chuva que cai, olho para essa visão turva da cidade grande e para a trovoada rasgando o céu... E sinto falta das histórias contadas... A forma de serem contadas pela boca do meu velho pai...