CARTA QUASE PRECE A UMA MÃE

No início da madrugada de 19 de janeiro de 2013

Mãe, hoje, no dia 19 de janeiro, dia do vosso aniversário enquanto habitastes esta Terra, venho dizer-vos: há idades sem fim rogo ao Deus-Habitante no interior do vosso filho para que Este Deus clareie para ele os seus próprios caminhos, mãe, os caminhos dele, do vosso filho, bloqueando os passos e os ouvidos da Desistência e da Morte, para que esta não possa aproximar-se dele, do vosso filho, nem lhe escutar as palavras, as palavras dele, do vosso filho, mãe.

Há idades sem fim rogo para que vosso filho, mãe, dê permissão ao Poder que o habita, para que Este Poder possa agir, em plenitude e liberdade, a favor do seu renascimento, do renascimento pleno do vosso filho, mãe, do vosso filho, desde o centro dele mesmo.

Todo poder ao Poder da Paz que o habita, que habita o centro do vosso filho, mãe, para que ele, vosso filho, venha efetivamente a viver, mãe. Para que ele, de verdade e em verdade, sinta-se e saiba-se vivo, mãe. Vivo, em cada momento. Vivo, agora e para sempre, mãe.

Independente da possibilidade efetiva dele poder voltar, fisicamente, para a Pátria que o habita, a Pátria que lhe habita os sonhos, que ele, vosso filho, possa viver, mãe, renascendo de si mesmo, mesmo aqui, nesta terra onde ele já não se sente presença e presente, mãe, ainda que, embora ele não o creia (talvez nunca ele o tenha crido), permaneça sempre presente e presença em mim. No que se refere a nós dois, vós sabeis que desde sempre renunciei a tudo, pela honra, afinal, mesmo que vosso filho ainda me quisesse, como poderia eu trair aquela que me recebeu na sua (e deles) casa, com confiança e pleno respeito? Como poderia eu trair a confiança de suas meninas? Jamais eu o poderia que, do que fui, só consigo ainda ver-me claramente a honra porque, de tudo o que me habitou, quase tudo o mais são presenças de mim que se evadem, que me fogem, que não me consigo fixar. Certezas quase nenhumas me habitam, mãe, além do meu afeto por vosso filho, do meu compromisso com ele que transcende, deveras, qualquer ditame do senso comum, e/ou os ditames do que eu poderia chamar de senso “oficial”.

Senhora, eu vos saúdo, daqui onde estou, nesta Terra em estado tão precário, semelhando estado terminal, desta terra tão precária de mim mesma eu vos saúdo, mãe do homem cujo destino me importa mais do que o meu próprio destino me deveria importar. Eu vos saúdo em nome do meu sagrado afeto por vosso filho, mãe. Eu vos saúdo, a vós, tão perto de Deus.

Escrita em 19 de janeiro de 2009, com acréscimos e alterações hoje, em 19 de janeiro de 2013.