"Jô, tiveste leitura tão profunda de meu "prefácio" que me fizeste comovido, comovidíssimo. Para mim soa até mesmo como uma mentira que eu inventasse, pessoanamente, no meu desejo de ovações; - que hoje (este último), muito embora, se me está mais fraco, graças a deus!
 
     "Creio que tenhas desvendado alguns mistérios do "prefácio" que pensava eu eram absolutamente ininteligíveis. Me fazes crer sempre naquela minha ideia antiga de ser qualquer coisa mais que um alguém aí (coisa que todos nós somos: um alguém aí). Gostaria de retribuir. Uma hora penso que poderei retribuir. Me faz feliz ver alguém que se debruce sobre versos meus, ainda mais alguém que tem verve, que tem criticidade, que tem poesia, acima de tudo.
 
     "Poderia te dizer talvez que São Paulos, Novas Iorques, poderiam se tornar neologismos tbm: sãopaulos, novaiorques; pelo apreço à criação... contanto, são marcas de estilo que ficam a critério de cada qual. 
 
     "Ah, sim, eu tornei à tua crítica e reli... falar verdade, volta-e-meia retorno em ti e, além de ler o que tu postas, muita coisa, leio as minhas coisas de ti, na espera, na crendice e no ressabor de que tu tenhas dado teor novo, dito um algo mais, como alimento... e sempre tenho o algo mais, mesmo que o não movas, porque tua fala não é estática, não fica imóvel... tuas letras caminham, - e isso é que faz tua "crítica" como flor viva do nosso recanto, da nossa história, da Literatura (ao menos da que amamos nós, a verdadeira!).
 
     "Penso que te orientar sobre o "prefácio" seria matar tua versão da minha escrita, que para mim é maravilha toda vez que leio. Seria me intrometer demais. 
 
     "Se concordo ou não? Quem sou eu pra discordar da transfiguração? Da sequela? Da noite? Da morte? Da insurreição? Sou símplice sérvice do ocaso... e da ressurreição.
 
     "Acho linda a tua escrita, acho aguçada a tua leitura, acho ponderada a tua posição em sentido de avaliativa, minuciosa, corrente contra a atmosfera férrea, nado rumo ao luar. Não sou eu que acho apenas, tua legião de seguidores... E eu vou discordar de ti: corrigir e orientar? Quero te olhar. E quando houver uma vírgula ou uma minuta, poderei até dizer: te equivocaste. Mas acho que não, não o vi, não mo interessa. Se o fizeste, uma coisa assim... creio que já o releste, refirmaste... obra de quem obra, de quem mede, de quem pondera deveras, volta, orgasma-se, reflui, - coisa rara, bem avante do contemporaneísmo insosso e dependente. 
 
     "Muito embora, dependamos ao nosso tempo do alimento, que creio que a ti também te relegues um desgaste além do que possamos junto à nossa escrita, ao nosso desejo de literariedade. 
 
     "Eu sou uma pessoa tão simples. Vê nas entrevistas minhas, uma pessoa sem fascínio, coerência, de palavras erradas e sem grande atração. Acho que daí me esgueirei na poesia, me escondi ali, mas descobri como necessidade. Para curar essa mácula, essa inutilidade toda de mim. O "prefácio" agora me é muito mais belo que fora. 

     "Obrigado, Jô. Tua missão literária, entusiasmada, crente, poderosa... ela é real, efetiva, verdade. Concretiza-se a cada momento mais, no coração de afeto e naquele cioso, no amigo e no cauteloso; até à concretude final."
 
                             (e-mail de 06/08/12)

                                             andré boniatti
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André
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 18/01/2013
Reeditado em 12/02/2013
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