CARTA (a jornalista)
Aos poucos você vai se afastando e me excluindo da sua vida, como se eu fosse uma doença contagiosa... Isso é triste, e é o que jamais esperava de você, por acreditar ser diferente. E esta doença é nada mais que minha condição social de agora, que não é definitiva, pois acredito ter força, inteligência, sabedoria e, sobretudo, fé, pela qual tenho visionado um futuro melhor.
Creio que para uma jornalista que vem ganhando destaque, “status”, isto por mérito, é humilhante relacionar-se amorosamente com um simples professor... Não é verdade? Será que a isto se atribui a desvalorização da profissão ou a algo dentro de você imposto por um modelo de sociedade em que as pessoas se distribuem em classes?
Então, nesta matemática absurda, se eu pertenço ao conjunto da classe B não faço intersecção ao conjunto da classe A. É uma questão de matemática, não é? Uma matemática burra que me coloca em desvantagem a você e a seus colegas metidos a “riquinhos”, isto pelo simples fato de eu ser tão mal remunerado em minha profissão, da qual me orgulho e acredito nos frutos colhidos e os que irei colher...
E o que era belo é estagnado ao feito... A quem pertence esta Lei? Por um tempo você esteve acordada, mas agora perece adormecida para o que é belo, pois se admirou e identificou com o mundo das coisas, do poder, e se permite ser levada... Lembre-se que estas coisas, a certa altura, podem ser levadas, e o que apenas ficam são os valores lá de dentro da gente...
E agora, que fazer da poesia vivida ao longo deste tempo, poesia que me pus a escrevê-la de tão incrível é, pois não cabia dentro de mim... Incinerar todas elas e ficar com a resposta de que nada aconteceu? São tantos versos, tantos momentos de felicidade compartilhados, sonhos a realizar juntos que me trazem agora o duro e frio silêncio do não acontecido... Isto é justo?
Mas eu, pobre desgraçado pela sorte de amar inteiramente, fiquei sozinho ali, com nossos sonhos a recriar imagens de outrora, a escutar os sons de teus passos, os ruídos dos teus risos, teu cantar, tua fala meiga dizendo-me: eu lhe amo! Tenho saudades de tudo... E é triste sentir isto sozinho. Mas fiquei só, e devo aceitar esta triste condição... É isto?
Quero que saiba e guarde contigo, se é possível, que eu vivi esse tempo todo para você, sei que irá dizer que não me pediu, mas eu vivi porque sempre acreditei não em mim só, mas em nós dois, em nossos sonhos, aos quais dei nome, cor e gosto de realidades. Sonhei com os pés no chão, alicerçando-os firmes, tanto que procurei ser sincero em tudo...
A minha felicidade é que um dia você acorde novamente para o que é belo e daí você perceba que o homem que mais te amou nesta vida ficou para traz... Espero que não dure muito tempo e que eu ainda possa existir para você, que não permita o orgulho lhe roubar a fala, e que os nossos caminhos se encontrem definitivamente.
Eu te amo!