Até breve, Senhorita Athena
A vida tem sido um lugar extremamente cruel. Dia a dia, o que amo é-me tirado. Verdadeiro paradoxo, pois a vida, sendo a tenda sob a qual existimos para viver e... amar, ao mesmo tempo, interrompe o amor, ceifando a existência; torna-se, portanto, palco de morte onde é encenado o nosso fim.
A morte levou de mim a Senhorita Athena esta noite. Criatura simples que eu muito amo. Senhorita Athena foi a companheira, que veio ao meu encontro, pedindo-me somente o carinho de que precisava, pois fora abandonada. Muito grata, retribuiu-me como o seu amor incondicional; aceitou-me sem exigências, gratuitamente. Fomos felizes nesses dez meses que passamos juntos, e a felicidade - como sempre acontece-, deu lugar à dor lancinante, regente das sinfonias universais nas áreas do luto e da tristeza do teatro humano.
A vida é comparada a um câncer. O câncer se instala sorrateiramente e só se deixa perceber quando já está nos devorando. A vida nos instala e nos devora a cada segundo; se apresenta como uma grande dádiva, contudo, vai se retirando aos poucos até que nos expulsa totalmente. É a fiel parceira da morte, com quem tem um trato: um dia, cede-lhe solenemente o comando. Usa de sua mais vil e eficaz ferramenta: o tempo, seu carrasco, que movimenta para a morte.
A vida é, portanto, um jogo em um grande cassino, onde alguns jogam para sobreviver, enquanto outros desistem do jogo; alguns disfarçam, mas todos sabem a verdade: a casa sempre ganha.
São todos perdedores; vencidos em uma batalha covarde, na qual as cartas são marcadas. Por que, então, continuar jogando? Por que continuar lutando? Talvez, o único modo de vencer o jogo seja destruí-lo de uma vez... As respostas são mudas. O adversário é sorrateiro e observa.
Não vai ser fácil para você, vida-morte, digo. Mesmo sendo seu o xeque-mate, vou lutar até o fim e derrubar grande parte do seu exército asqueroso. Até breve, Senhorita Athena.
SONETO LXV
Se a morte predomina na bravura
Do bronze, pedra, terra e imenso mar,
Pode sobreviver a formosura,
Tendo da flor a força a devastar?
Como pode o aroma do verão
Deter o forte assédio destes dias,
Se portas de aço e duras rochas não
Podem vencer do Tempo a tirania?
Onde ocultar - meditação atroz -
O ouro que o Tempo quer em sua arca?
Que mão pode deter seu pé veloz,
Ou que beleza o Tempo não demarca?
Nenhuma! A menos que este meu amor
Em negra tinta guarde o seu fulgor.
W. Shakespeare