Sem sentido
Minha querida amada,
Não sei onde estou e nem o motivo de estar neste lugar. Apenas consigo sentir o intenso frio que a calada da madrugada entranha nos poros de minha pele. Só consigo ouvir o enlouquecedor som do mais profundo silêncio, que me faz perder completamente os sentidos. Não consigo mais sequer imaginar a presença de alguém ao meu lado para confidenciar minhas insanidades. Pensando bem, até que me identifiquei com este vazio.
Escolhi uma direção aleatória e pus-me a caminhar, entre tropeços e quedas, sem a esperança de encontrar algo ou alguém que possa me retirar desta existência sem sentido. Ao longe, posso escutar o silêncio das trevas sendo rompido por ecos de trovões, anunciando que a situação não tardará a piorar. Logo, os relâmpagos passaram a cortar o véu negro do céu, como flechas incandescentes sem direção, e me permitiram ver as silhuetas das montanhas a oeste e um vasto e descampado horizonte a minha frente.
Entre um feixe de luz e outro, vou construindo esta carta para você, meu amor. A cada segundo, meu peito é arrebatado por um sentimento distinto. Isso está me torturando mais do que estar aqui. Aquele velho medo que sempre me acompanhou agora se tornou conformismo. Desejava ser conformista antes para sentir medo agora. Pelo menos, desaprendi a contar o tempo, assim deixo minha ansiedade para lá.
Está começando a chover, e meu queixo não se cansa de trepidar. Vou escrever estas últimas linhas antes que seja tarde demais. Meu amor, saiba que você sempre esteve e sempre estará em meus pensamentos. Tenho muita saudade dos ótimos momentos em que vivemos juntos. Eu te amo, amor. Deixe um beijo para as crianças. Eu amo nossa família. Agora deixarei este pedaço de papel debaixo de uma grande pedra que encontrei e irei continuar minha caminhada até meu último suspiro nesta derradeira madrugada.
Tenho esperança de que alguém encontre minhas palavras. Perdão pela falta de sentido nelas e em minhas atitudes, mas é que não sei mais qual a lógica da palavra “sentido”.
Pedro Henrique