CARTA A ZULEIKA DOS REIS

Você não tem culpa de ser quem é. Você não é melhor nem pior do que ninguém. Nunca pretendeu nem pretende, com o que é, enganar ninguém. Nunca pretendeu nem pretende se mostrar melhor do que é a ninguém. Ninguém tem mais noção dos seus próprios defeitos e limites do que você. E não espera nenhum resgate da própria vida a não ser pela ajuda de Deus e pela sua própria ação a seu favor, em seu benefício,que nunca incluiu nem inclui lesar o direito de quem quer que seja.

Se a vida lhe trouxe muitos enganos e dor, sempre assumiu e assume a responsabilidade por eles. Não mais assuma a responsabilidade pelos enganos e pela dor de ninguém. Isso não é justo e está na hora de você ser um pouco justa com você. Cada pessoa deve se assumir, e você se cansou de pedir perdão por crimes que não cometeu. Você, definitivamente, se cansou. Ninguém nunca assumiu qualquer responsabilidade pelos enganos e pela dor que lhe foram causados e você sempre aceitou isso, que cada um é responsável pelo que faz, pelo que julga, e você não pode responder pela consciência nem pela autoconsciência, muito menos pelos atos de ninguém.

Escrevo isto para você mesma, em homenagem a você mesma, não para alguém em especial. Sei que você nunca esperou unanimidade porque isso não é possível, nem fez concessões para ser aceita e amada por ninguém. Escrevo estas coisas para você, Zuleika, para que você ainda possa se re-conhecer. Escrevo-lhe para dizer que o verdadeiro e legítimo casamento deve ser com você mesma, que nenhum outro casamento, nenhum poderá ser bem sucedido se você não se casar, antes de tudo, consigo mesma. E você, Zuleika, nunca se aceitou, plenamente, sequer como a própria namorada.

Se o namoro consigo mesma vingar, talvez se torne possível o compromisso maior. Uma vez casada consigo mesma, será possível, efetivamente, re-começar a existir de verdade. Recomeçar, de verdade, a viver. Só depois. Só depois.

Aceite o meu abraço fraterno, minha sempre querida Zuleika.