SEPULTURA FRIA QUE DENTRO DE SI ESCONDE UM QUENTE CORAÇÃO CONSUMIDO DE SAUDADE....

Ás vezes é difícil entendermos a solidão, o vazio, o desprezo. A alma pede a morte e a morte um pouquinho de paciência; Sabemos que a vida é assim, cheia de nuances, perene, porém não pequena; Busco rememorar as velharias da lembrança, talvez na esperança desesperançada de reencontrar a quem nunca achei, embora já a tenha vivido. É de um velho amor novo que me refiro. É o novo amor que envelheceu no tempo, mas rejuvenesceu na alma já enfadada desse velho escritor.

Ao relento repousa mendigo um coração saudoso de uma lembrança nunca diminuída, senão acrescida pela ausência de quem já foi um dia. Quem sabe ela leia essa carta e decida compreender que a vida, a minha vida, esta vida se tornou pequena sem a celebração de seus lábios junto aos meus. Quem sabe ela entenda que meu corpo ficou ermo sem que seu corpo o habitasse por inteiro. Quiçá ela se aperceba que tornei-me como um solitário, ainda que uma multidão me cercasse. Tornei-me reflexo de um espelho quebrado, esfacelado e sem motivação...

Hoje as lembranças dela são ardentes, doem, dilaceram. Morro a cada dia, vivo a cada pedaço de esperança desesperançada. Quem sabe um dia tudo isso acabe e em paz me repousem sob uma lápide de saudade e amor hibernal, que meu corpo seja brevemente devorado e alimente os vermes, pois na vida foi alimento da ilusão que tão predestinadamente se concluiu na mortalidade anunciada. Que minha sepultura seja confiada a um singelo ornador, nada seja posto que a torne bela por fora, posto que no âmago esteja um tesouro guardado em um vaso de barro, um insignificante vaso de barro que trouxe consigo e dentro de si o mais precioso bem que nunca pôde oferecer a nenhuma outra mulher- o amor que hoje se encerra na sepultura fria que dentro de si esconde um quente coração consumido de saudade....

FidelisF
Enviado por FidelisF em 14/12/2012
Reeditado em 14/12/2012
Código do texto: T4034986
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