puxar

Tenho um problema.

Começo com confidências aos leitores.

Tenho um grave problema.

Me apaixonei por uma pessoa e esta pessoa se apaixonou vezes por mim.

Por um erro, fatalidade, efemeridade me descartou , sem ao menos me dar a chance de dizer estado transitório.

Existe em um filme uma frase " nos vemos em outra vida em ambos seremos gatos". Não quero esperar.

O que fazer para não esperar. Não quero esperar uma outra vida.

Mais uma vez crio um mundo só para ele. Me incluo aos poucos.

Deixo ele saber quem eu sou, aos poucos. Parece um pássaro, delicado, sensível.

O quero para mim. Tenho certeza. Quero cuidar dele, ama-lo.

Mas como acordar um sonâmbulo sem causar dano. Nunca deve -se acordar um sonâmbulo.

Eu existo!

Eu sou o sonho, por enquanto.

Eu quero ele junto a mim.

Puxar aos poucos o fio que nos separa, trazendo ele para a vida verdadeira, onde é difícil amar, onde a princesa tem espinhas e o príncipe levemente claudicante.

Entre um momento e outro, penso quanto tempo posso durar só no pensamento.

Quanto tempo tenho.

Eu sou a ilusão. Então sou real. Apenas quero dizer.

Se pudesse controlar, mas não controlo, apenas solto.

Solto e navego com ele, entre palavras bonitas, acreditando em sua sinceridade. A qual também ofereço, em doses homeopáticas.

Faço isso porque ele é um ser de rara beleza. Difícil de entender. Com medo, como todos nós. Meu amor é infinito. Meu erotismo por ele também.

Eu o amo. Desejo. Quero o seu toque, seu beijo, seu calor...

Mas seus olhos não quero. Que permaneçam fechados no sonho. Enquanto der, enquanto puder.

No sonho posso imaginar atos luxuriosos, cores que passam da paleta rosa para a vermelha.

Posso tricotar as palavras para que possa criar uma colcha e que quando meu amor acordar ele caia nela, com carinho, acolhido, amado, amante. Loucamente, insanamente no mundo real.

Após um tempo,

vejo que tudo deu errado. Sonhei com o correto. Com o encontro, por ser desmascarada, ganhando um sorriso. A vida não é filme, novela, livro.

Não comandamos as ações dos outros. Existe o desapontamento. Existe a vida, o mundo.

Existe o descartável. existe a pessoa descartável.

descartou-me.