SAUDADE = UM SENTIMENTO QUE DÓI.
Imaruí, SC 28/02/2007
Chandinha do Flipper.
É verdade que nos amamos e, por isso, eu vou guardar para ti no cofre das minhas emoções todas as minhas leves carícias, até que chegue o dia em que descansarei nas sombras das tuas eternas sobrancelhas.
Ninguém me convencerá do contrário, porque eu te elegi a minha doce nave para que juntos, um dia, possamos navegar os dias das nossas vidas, quando somente a fatalidade natural poderá frustrar os nossos sonhos.
Senhora minha muito amada, inconformado creio-me longe dos teus olhos e, em função desta singularidade, invade-me e fustiga dentro de mim um padecimento nunca sentido.
Eu amo os teus olhos, quero a tua boca, reconcilio-me com a tua alma bondosa, no entanto minha linda senhora, somente o vento me traz leves sussurros do setentrião, além fronteiras, mesmo assim, o meu coração murmura impaciente e eu te pressinto à distância.
Ah como eu te pressinto nessas noites vazias, debalde olho para as estrelas no infinito e não te vejo, assim fico perdido e determinado apenas pelas paredes do meu quarto, com as coisas quietas que ali estão e nada me dizem.
Apenas vejo uma colcha vermelha que impacta os fluidos negativos que tu bem conheces a origem, mas além dessa psicocinesia emanada das vibrações desta cor, ela também me enfeitiça e me fascina, pois faz me lembrar da rubra bougainvillea dos teus lábios que, em setembro rebentaram grávidos de amor para mim.
Senhora minha muito amada, envolvido por este sentimento inexplicável e dolorido da saudade, eu tenho te buscado por trás de todos os horizontes, ora olhando a infinitude do mar que me cerca, ora olhando para além do horizonte azul escuro das montanhas.
Ensimesmado, penso encontrar-te numa ilha perdida, como uma daquelas das nossas manhãs, vistas do restaurante em festivo e farto café.
Assim que o crepúsculo se ensaia e deixa atracar a obstinada noite, vejo se desprendendo do horizonte junto ao mar, uma gaivota menina que voa em minha direção, para somente bicar as minhas doridas saudades de ti.
O vento, esse companheiro inebriante e fresco do verão, com o seu bufido imprevisível, ora levanta ondas sem direção, que estonteadas, se debruçam perdidas na praia, querendo decodificar o teu nome com as espumas borbulhantes.
Antes que definitivamente a noite se estabeleça e, com os meus passos lentos e pesados, volto pela rua deserta e com o coração aos tropeços, mas eu ainda imagino te divisar por trás de todas as janelas.
Duro engano, pois as janelas já se encontram cerradas e apenas uma cortina ou outra se movimenta em alguma vidraça esquecida, como se fosse o fantasma da tua silhueta para agonizar ainda mais as minhas dores neste exílio.
A noite chegou e o calor me sufoca aqui nesta torre, a torre dos meus sonhos; é nela que eu te escrevo esta carta para te dizer do meu padecimento, todavia me alegro e me sinto feliz, porque, o destino dela será as sombras lindas dos teus lindos olhos de mel.
Minha linda senhora e muito amada, quando eu te escrevo no silêncio, obrigatoriamente ouço intimamente os rumores amorosos da minha alma, pois ela resmunga inconformada com o ostracismo que me foi decretado pelo destino.
Minha linda senhora, esta cartinha será curta, entretanto, espero que tenha um efeito impactante, e que entendas os meus padecimentos, pois eu sei que os aferirás com as tuas próprias agonias que acredito sejam de igual valor.
Mesmo vivendo nesta teimosa singularidade da distância, conforto-me de certa maneira, porque ainda não esqueci o teu lindo rosto e recordo sempre as tuas belas mãos, assim como sempre me ocorre à lembrança de como beijavam os teus rubros lábios.
Jamais esquecerei a tua voz, a tua voz alegre, assim como não esqueço os teus lindos olhos de mel.
Lembro-me sempre que as tuas carícias me envolveram, assim como as trepadeiras envolvem os muros velhos.
Por isso, estou irremediavelmente atado a ti, assim como o perfume rodeia a sua flor.
Minha senhora linda e muito amada, por ti me doem as saudades e os desejos se precipitam quando, as estrelas perdidas caem e se afogam no mar.
Tenho ganas de ti, porque te amo misteriosamente.
Eráclito.