Carta aos manejadores comunitários do Marajó
Rio Pará, 29 de novembro de 2012.
Caríssimos manejadores,
Em 2012 completou-se uma década de uma vitória silenciosa no Marajó. Sem mídia, sem badalação: a primeira regularização fundiária em áreas de várzea na pequena Ilha de Santa Bárbara, em Gurupá, em junho de 2002. Naquele momento, entregou-se uma cessão de uso gratuito pela Gerência Regional de Patrimônio da União a 17 famílias residentes naquela ilha. Hoje, 2,7 milhões de hectares em assentamentos, áreas quilombolas e unidades de conservação fizeram o Marajó avançar bastante em relação à segurança da terra, reforçada pelas autorizações de uso da SPU a mais de 20 mil famílias no território marajoara.
Mesmo restando muito trabalho pela frente no campo fundiário (o Marajó tem ainda cerca de 7 milhões de hectares a serem resolvidos), começam a surgir perguntas em todos os cantos de como podemos utilizar a floresta da forma mais responsável possível pelas comunidades tradicionais da região que obtiveram ou não a terra oficialmente. E num momento onde as mudanças do tempo são sentidas na pele, de grande “quentura” no verão, de invernos às vezes exagerados, os extrativistas agora percebem que tem um papel importante na proteção da floresta, que alivia e dá sombra neste século de sol escaldante que vivemos.
Mas como proteger a mata e viver dela ao mesmo tempo, já que 500 mil habitantes marajoaras precisam destes recursos? Talvez a resposta esteja na palavra manejo, no manejo dos recursos naturais ou no caso da floresta, no manejo florestal. Pode ser um termo estranho para muitas famílias que sem saber já fazem o dito, porém, como é uma ciência, está mudando todo dia, evoluindo, melhorando como deve ser a regra para cada geração que pisa neste mundo. Pelo menos é o que todo bom pai deseja para seu filho: que seja melhor e que viva melhor que seu pai.
Então, já é hora de discutir as vantagens de nosso manejo de açaizais, qual o valor justo das madeiras que fazem nossas casas, de como cuidar das palmeiras que fornecem sementes para a indústria de cosméticos, de aproveitar a copaíba em pé em vez de deitada, do zelo para a ucuúba, a macacaúba, os cipós. De ver a abelha produzindo mel com a mata servindo de abrigo para ela.
Rios e florestas precisam ser enxergados como um bem de todos. Não se pode olhar a juventude de hoje como a 10 anos atrás. O que esta geração fizer vai rebater nas futuras. Como ser merecedor de tanta riqueza natural nos dada? São pensamentos que surgem em nós não com estas palavras, mas que no fim incomodam. E este deve ser nosso objetivo sempre: contribuir para que nossa floresta, rios e campos marajoaras sejam bem usados para hoje e sempre.
Aos mestres, escrevi.