ps.: I LOVE YOU
Estive cerca de dois dias depois da tua partida a imaginar possíveis formas de saudação para que pudesse dar início a esta carta, que te escrevo. A verdade é que, ainda não sei como te saudar depois dessa tua repentina e madrasta partida.
Minha querida e eterna amada, sei que por tudo aquilo que nos juntou e tantas vezes nos desuniu, tu ainda me amas. E talvez, e digo talvez porque jamais algo nesta vida é certo, um dia, tu tenhas a vontade de voltar e partilhar comigo, tudo aquilo que construíste após a tua chegada a esse lugar por que me trocaste. Quero aprender contigo o novo diálogo da vida, cheio de apartes e personagens secundárias que de certo aprendeste. Quero que me contes todos os amores que viveste e também os dissabores, quero fazer parte integrante da tua vida, sem nunca esquecer que um dia, no passado, conheci em ti alguém diferente. Será para mim uma honra poder testemunhar a grande evolução que sempre disseste precisar na tua vida e que sem reticencias me deixes explorar todos os longos caminhos dessa tua magnanime jornada. Sei também que, ao longo de todos estes anos, fomos um para o outro, almas insuficientes. Deixa-me dizer-te, minha querida, que talvez tivesse sido, medo, medo mútuo. A arte de entrega total nunca foi, definitivamente, um dom que nos pertencesse. Se a tua palavra final era um sim, a minha era um não, e isto não se passava pelo simples facto de contermos em nós opiniões divergentes, era simplesmente porque sim. Ambos sabemos das longas noites de amor que se foram prolongando em manhãs e dias inteiros deitados numa cama, ou por vezes até num colchão em cima de um chão frio. Porque para nós, sabes quase tão bem quanto eu, que não precisávamos de mais nada, se estivéssemos juntos. Porque um dos nossos problemas, nunca foi falta de amor. Amor, oh esse havia! Havia de manhã à noite, vinte e quatro horas por dia. Lembraste? Havia amor desde um beijo na testa até ao simples gesto de dar a mão. Em nós havia muito amor, amor mútuo, muito amor mútuo! Era amor desde os ciumes à falta de confiança e desde os suaves e delicados beijos até ao toque gentil da passagem da minha mão sobre os teus fios de cabelo lisos, compridos e brilhantes castanhos escuros, com reflexos a um castanho ligeiramente mais claro, com o odor perfeito da conjugação de abacate e mel (desculpa, a minha imaginação sobrevoo além dos meus pensamentos, e voltei a sentir o adocicado cheiro do teu cabelo). Voltando ao contexto real desta inútil carta, no fundo, sempre soube que um dia partirias, sempre que o assunto emergia de uma simples conversa, tu não deixavas margem para dúvidas que esse era decididamente o teu desejo - ir em busca de uma vida que não a que tinhas. Querias algo maior, estrondoso e inigualável ao que te foi concebido durante vinte e quatro anos. As minhas palavras são sinceras, e do fundo do meu coração, quase do tamanho do meu amor por ti (digo quase, porque não existe nada maior), quero muito que encontres essa felicidade por que tanto esperaste e que um dia, não importa quando, voltes, para me relatares qual a sensação de se ser feliz. Pois só quando ouvir da tua boca que estás finalmente feliz é que darei por concretizado o meu sonho: ver-te realizada, como sempre desejaste. Ontem, quando à noite me dirigi em direcção do nosso quarto, relembrei por instantes a forma viril e abrupta como saltavas para o meu colo sempre que eu entrava em casa, junto, senti também o cheiro a lavanda que predominava nas tuas roupas, sempre com um toque ao meu perfume, que adoravas vaporizar por cima da tua roupa previamente lavada. Pergunto-me, meu amor, qual será o o odor do perfume que espalhas hoje, na tua roupa.
Desculpa-me por nunca ter sido para ti, aquele que te levaria um dia ao altar, não o altar da igreja, mas ao altar da felicidade. Por outras palavras, perdoa-me por nunca teres sido uma mulher feliz junto de mim, como tantas vezes prenunciaste. A verdade é só uma: somos dois contrários que sempre foram sinónimos. E mesmo que assim seja, eu amo-te.
Trata-se de um texto fictício. Obrigada por lerem e deixem por favor a vossa opinião nos comentários. :)