Carta ao Tempo

Dificil começar, até porque quando eu terminar, o tempo já vai ter passado. Bem, me deparei com uma curiosidade: quanto menos tempo tenho, mais tenho tempo.

Nada adianta escrever rápiddo, o tempo passará igual e levará consigo a memória do momento, porque a pressa ja me ocupará todo o tempo.

Não adianta escrever devagar, o tempo me tomará o futuro e nada farei alem de escrever essa carta.

Resta escrever já pedindo um favor ao destinatário: pare. Quero escrever despreocupado com ter de busca-lo mais adiante ou resgatá-lo logo atrás.

Tens faltado-me, velho amigo.

Sua falta me faz ter mais tempo.

Posso ter mais tempo tendo menos tempo? Que tem de diferente? São os segundos que ficaram maiores? É o mundo que ficou mais lento, acompanhando o velho carrasco da vida?

Agora mesmo os segundos custam a passar, me dão tempo de escrever e pensar no amanhã. Será amanhã tão sem tempo quanto tem sido os dias, tão cheio de tempo quanto tem sido a falta de tempo.

Não há como entender o tempo, ele e suas loucuras, momentos e velocidades. A única certeza é que o tempo passa.