À sua covardia

Olha, eu te disse que você não iria mais escutar minha voz e você não vai. Só que ainda há algumas coisas engasgadas, algumas coisas que eu não te disse porque achei que te fariam mal. Audácia minha achar que qualquer coisa que eu venha a te dizer por um acaso te deixe mal. O que eu não vou fazer é prender essas coisas todas. Se você não quiser continuar a ler, pare logo. Não sei o que virá ao longo destas linhas, não sei o que esses parágrafos próximos te dirão.

Primeiro eu preciso te dizer que você realmente não é que eu achei que conhecia. Tudo bem, sempre bati na tecla afirmando que ninguém conhece ninguém por completo. De fato. Mas eu não conheço nada de você. Quer dizer, conheço algumas de suas características. Sei, por exemplo, que você é fraco. Mas isso até você sabe e assumiu, né? Você é fraco. É de uma fraqueza covarde. Você é covarde. Você é de uma covardia egoísta. Você é egoísta.

Não adianta tentar limpar sua consciência dizendo que você foi sincero, que você pensou em nós dois, que tentou me proteger... Não adianta. Você nem deveria tentar fazer isso. E se você está fazendo, isso só prova mais uma vez tudo o que eu disse no parágrafo anterior. O fato de você ter feito a mesma coisa duas vezes só mostra o quão egoísta você é. Porque “eu achei que conseguiria” não existe.

Eu tentei aceitar sua incerteza, tentei me adaptar ao seu estilo “imprevisível”, tentei viver um dia de cada vez com você achando que era o certo. Eu sei que eu tava só me iludindo. Na verdade, eu sabia desde o dia que eu voltei pra cá que eu só estava me iludindo. O que faz com que exploda um ódio imenso de mim. EU sabia que você não ia conseguir, mas fiquei me enganando todo esse tempo, tentando fazer valer a pena, tentando te fazer feliz, tentando segurar a barra. Porque se você acha que me viu desabando, cara... Acredite, aquilo não era 1% de como eu me sentia diariamente, durante todas as vezes que você me negligenciou, que você ficou estranho, que você omitiu tantas coisas de mim.

O que eu sei é que eu realmente tinha esperança. Tinha esperança que fosse acontecer, que fosse dar certo. Afinal, apesar de eu saber lá no fundo, você poderia mudar isso. Mas, pra que? Você é muito cheio de si pra entender que um relacionamento é feito com duas pessoas. Você é muito cheio de si para entender que o que faz crescer é o companheirismo, a cumplicidade, o sentimento, a vontade de ficar junto. Você não é forte o suficiente pra entender que dois meses não são nada comparados a uma história, você nunca foi forte o suficiente pra me esperar, pra planejar, pra querer ficar comigo de verdade. Até porque, se você quisesse, você estaria.

Eu te disse que iria te esperar, mas foi só no calor do momento, na tristeza de saber que eu estava perdendo você. Mas aí... Quando eu te liguei desesperadamente na noite da segunda-feira pós-término e você teve coragem de mentir pra mim duas vezes dizendo que seu celular tinha descarregado e que você não tinha visto ligação nenhuma minha no seu celular, depois que eu entendi que você realmente estava me evitando, depois que eu ouvi na sua voz, enquanto você estava passeando no shopping, a confirmação de que nosso namoro tinha acabado, eu entendi que eu não te perdi. Que ninguém se perdeu. Quer dizer, talvez você tenha me perdido. É... Você me perdeu. Porque o fato de eu ser “sonhador”, “otimista”, ou qualquer outra característica que você tenha aversão, garantiria um amor sublime. Eu te amaria de forma sublime, eu te faria feliz, eu estaria do seu lado apesar de qualquer coisa, eu estaria com você em qualquer momento. E isso não é uma questão de “não houve tempo pros problemas”. Muito pelo contrário. Houve problemas demais! E mesmo assim, eu queria estar ao seu lado, queria vencer essas coisas pra ficar ao seu lado. Queria vencer com você essas coisas pra ficarmos juntos.

Você desperdiçou amor, você jogou fora o que nós tínhamos, você jogou fora o que eu sentia por você, me fez por menos, fez o meu sentimento minúsculo e zombou de mim quando disse que eu era “especial” pra você. Especial? Que tipo de pessoa faz o que você fez com alguém que tem como especial? Não, talvez você tenha até acreditado que eu fosse, quem sabe, um pouco importante. Mas esse pensamento logo caiu por terra. Bastou que você visse casais juntos para invejá-los e concluir que o que nós tínhamos não era real, era algo imaginário, como você fez questão de dizer mais de uma vez.

O fato, brother, é que você não entende bem o que é “sentir por outra pessoa”. Você é imediatista, efêmero, é fraco, covarde... E eu fico me perguntando o porquê de eu ter me rendido mesmo vendo tudo isso. Uma vez é ingenuidade, duas é estupidez. Eu fui estúpido, mas acordei pra entender que a estupidez foi alimentada por um cara que conseguiu me ver, que conseguiu ver nos meus olhos tudo o que se passava dentro de mim, e tirou proveito disso. Você sabia o que falar e quando falar pra esconder o que você é e iludir o que eu sou. E conseguiu.

Não há possibilidades de amizade com alguém assim. Como eu poderia ser seu amigo? Você me traiu! Traiu da pior forma que podia. Traição ideológica é muito pior que física. Isso é... Quem sabe se já não tem uma outra pessoa que pode te abraçar na semana, que pode te dar um beijo por aí, sem ter uma data. Provavelmente você já tenha alguém com quem possa fazer todas as coisas que você prometeu fazer comigo, mas por ser fraco demais, por ser covarde demais, não quis. E é isso, viu? Não quis. O que a gente quer, a gente consegue. Então não se engane dizendo que “não consegui isso ou aquilo”. Você não quis. E está no seu direito, é claro. É você quem diz o que quer e o que não quer.

Eu espero não te encontrar nunca mais, brother, porque o que está aqui dentro do meu coração é angústia, é raiva, é mágoa, é rancor. São todos esses sentimentos ruins. Uma hora eles vão embora, mas quando eles forem, levarão qualquer resquício de você que tenha sobrado dentro de mim.

Não vou ser hipócrita dizendo que quero que você seja feliz e bla bla bla. Eu quero que você viva longe de mim, apenas isso.