Um dia desses
Um dia desses pego meus planos e coloco numa mala e saio por aí a fora sem destino certo pra chegar. E levo comigo apenas aquilo que dê pra comportar no peito, levo meus sonhos. Levo algumas poucas pessoas que em sua caminhada também carregam um pouco de mim. Um dia desses eu abro bem meu peito só pra ver o que tem por lá, quem está por lá. As vezes é bom fazer uma redução de quadro, uma redução dessa gente que não fazem diferença alguma em nossas vidas mas insistem em querer ficar. Insistem em se esconder entre uma artéria ou outra, se camuflam. Um dia faço isso só para poder administrar melhor o ambiente, manter a pureza do ar e a potabilidade da água, do meu sangue. Não posso correr o risco de ser contaminado pela indiferença sentimental alheia, muito menos pela conduta e palavras errôneas daqueles que insistem em bisbilhotar a minha vida. Um dia desses, ponho tudo abaixo, acabo de uma vez por todas com as brechas das paredes e com aquele velho problema na tubulação. Nada de reaproveitar o velho, comigo tem que ser tudo novo. Desabo para poder reconstruir, erguer diferente. Um dia desses saio por aí, talvez até sem malas só pra poder descobrir que tudo que eu preciso carrego bem aqui dentro do meu peito, dentro de mim. Saio sem pressa. Levo de tiquinho e tiquinho tudo que tiver que levar, sem sequer avisar. Talvez assim quem sabe a saudade te alcance e te faça vir um dia desses quem sabe, me visitar.