FLUTUANDO?

AMADÍSSIMA E MEIO QUERIDA

Na carta que recebi hoje, falas da enormidade da surpresa à qual o desditoso fato te levou. Especificamente, afirmas que ficastes "sem chão e sem teto". Força de expressão à parte, fiquei intrigado e deveras curioso em saber a real situação em que teu corpo ficou. FLUTUASTES? Conseguistes a notável proeza de levitar? Qualquer uma das situações por mim deduzidas hão de ser-te por demais benéficas, até sob o aspecto financeiro e de economia de tempo: poderás chegar a qualquer ponto do universo, inclusive empreender uma viagem interplanetária sem que precises de qualquer veículo que não seja teu próprio esqueleto em sua envoltura de pele, músculos, etc. Com vantagens adicionais: dispensada do aborrecimento de check-in e, claro, da contingência de sentar em poltrona vizinha a uma cujo ocupante seja um tagarela com mau hálito e que só consiga falar umedecendo o rosto do casual interlocutor com aspersão de saliva (menos mal que são gotículas, apenas). Sem esquecer, claro, o hábito que muitos cultivam de não poderem conversar sem que as próprias mãos estejam pousadas em algum ponto da anatomia do vizinho, preferencialmente travando-lhe os braços.

Ansioso,

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 14/11/2012
Reeditado em 15/11/2012
Código do texto: T3986463
Classificação de conteúdo: seguro