Para a menina de armadura.
Sentei certa vez num banco. O pensamento de repente esvaziou-se, de maneira a na verdade gritar o que seria de mais real pensar.
E você me respondeu uma pergunta que nunca havia formulado, sempre esteve ocultamente formulada.
Foi talvez ai que se impôs a mim.
Mas não, sabia a resposta porque tinha a mesma pergunta.
Foi esse o começo do nosso despir.
Nuas, era como viamos uma a outra. Você era linda...
Desprotegidas.
Você se machucou. Não queria tocar-lhe a ferida, não podia curá-la e talvez até por tentativa disso: acusou-me de usar roupas...
Agora percebo a armadura que carrega. Fria, pesada. Ela te protege, mas também te prende. Sabe como os insetos, é preciso se expor para encontrar algum espaço pra crescer.
Um dia talvez perceba que a armadura te machuca também. E talvez ela a tenha te machucado.
Um dia talvez perceba que feridas se curam sozinhas, não adianta cutucar.
Um dia talvez perceba que eu, e todo o mundo nos machucamos tambem.
Um dia talvez percebe que é normal se machucar e todo mundo tem feridas.
Torço todos os dias pra que saia da sua armadura.
Gosto de te ver nua.