Cidade dos Anjos, 02 de Novembro de 1995.
Querida Aninha,

Hoje acordei com uma imensa vontade de te escrever, pois já faz muito tempo que não te escrevo nem sequer uma linha. Faz vinte anos que você partiu. Não deixou nem uma pista ou se quer um recado debaixo da minha porta, como era seu costume.
Porem, Aninha, te entendo, sei que não é fácil. Mas sua partida fez um grande buraco em meu coração, pois não consigo parar de pensar em você, não me esqueço das conversas que tínhamos na beira do lago e das nossas brincadeiras, portanto, são vivas na minha mente até hoje. Nossos vizinhos sempre brincavam conosco dizendo que essa amizade acabaria em casamento, mas meu pai sempre falava que a verdadeira amizade perpetua pela eternidade. Pode até ser que não, mas o tempo passou, e o meu sentimento por você não acabou.
Não sei se te falaram, casei e hoje tenho duas lindas filhas. A mais velha chama-se Ana Luisa e a mais nova Ana Carolina, são duas jóias que eu tenho, não sei se notou, pois o primeiro nome das duas é em sua homenagem. Minha esposa chama-se Carmelita, uma linda mulher, enfermeira e uma excelente dona de casa. Fiz Direito, hoje sou advogado e trabalho nas Indústrias Morales, sempre dizia que um dia iria trabalhar lá, lembra? Vivemos muito bem em Cidade dos Anjos, temos nossas posses, trabalhos e amigos, mas no futuro pretendemos ir para a capital. Não parei de estudar, embora o tempo seja pouco, dedico duas horas por dia para os estudos de Mestrado.
Meus pais estão bem, fortes e com muita saúde. Moram no povoado bem próximo da cidade, onde você e eu brincávamos. Toda semana minha família e eu vamos para lá, ali passeamos, descansamos e conversamos. Tenho uma grande caixa que guardo os meus pertences da infância e estão bem escondidos na casa dos meus pais. Na semana passada, abri a caixa e fui relembrar dos bons momentos que passei, vi também um cartão que você havia me dado de natal, quanta saudade e alegria ao mesmo tempo. E naqueles momentos de pura nostalgia, abri um livro velho e ali estava uma flor seca, lembro-me que você havia me dado dias antes de sua partida. Essa flor foi por causa da nossa briga na escola, pois você era muito teimosa e brigona. Ah! Que saudades das nossas brigas!
Aninha, quero lhe dizer que você sempre será minha melhor amiga, não importa se você voltará logo, só sei que sempre estarei aqui para recebê-la de braços abertos. Mas fique sabendo que quando você chegar, ficarei bravo, mas muito bravo... Porque partiu sem avisar e muito menos um recado deixou.
Aqui quem despede é seu amigo, um grande abraço e fique com Deus!

Saudades eternas,

P. Henrique
Valmir Silva
Enviado por Valmir Silva em 14/11/2012
Reeditado em 19/02/2014
Código do texto: T3985826
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