Deixa eu chorar

Querida mamãe. Sei que não sou o mesmo desde a ultima vez que realmente paramos para conversar. Sei que as coisas não tem sido como temos combinado desde que eu era um garoto pequeno. Sei que você ficou um pouco triste ao descobrir que eu não visava engenharia, fábricas ou nenhum cargo que tenha me ensinado que seria financeiramente bom para mim. Sei que já cheguei aos vinte e ainda não te apresentei a pessoa que gostaria para prosseguir para o casamento. Também sei que você nem queria isso mesmo, afinal de contas, acredita que no momento eu tenha que me focar em estudar mesmo.

Quando leu minha primeira carta de amor, você chorou. Quando discursei em frente aos familiares sobre você e nossa familia, dizendo que só queria nossa paz, e só buscava nossa harmonia, você chorou.

Não deve ser muito fácil dizer que o filho faz teatro, ou que não liga para futebol, ou que simplesmente não é como os outros meninos. Mas, você nunca se privou disso, você nunca deixou de falar a verdade só para não perder um amigo. Esteve sempre carregando o fardo de ser a boa mãe que é, sempre presenciou e apoiou nos momentos mais difíceis, da mesma forma que nunca me deixou esquecer de comemorar, quando alcancei minhas primeiras vitórias.

Hoje as coisas estão bem diferentes, não temos os mesmos papos de antes, e é muito raro eu te pedir um conselho. No entanto você continua me colocando em primeiro, embora hoje já tenha um outro filho pequeno. Eu tenho certeza que jamais seria tão bom nisso quanto você. Se doar dessa forma para manter todos bem, deve ser muito difícil, e eu peço desculpas se em alguns momentos eu soe como um mal agradecido.

É importante eu dizer que serei para sempre o seu melhor amigo. E agora que cresci estou buscando um ser ainda desconhecido, minha busca agora é baseada no meu eu interior e no que ele pode ser daqui para frente.

Obrigado por me apoiar, me dar espaço para voar, e me deixar chorar!